Estacionamos os carros na portela
do Leonte e seguimos pela estrada alcatroada, atravessando a mata da Albergaria,
até ao início do trilho que nos iria levar aos Prados da Messe. Chegamos ao fim
de vinte minutos de caminhada em bom ritmo, cerca de três quilómetros. Passamos
ao lado de ribeiros de correntes caudalosas e nascentes a jorrar água profusamente,
evidências dos dias chuvosos das últimas semanas. O frio apertava. Fomos
caminhando e conversando. Não me encontrava com a malta há alguns anos. O
Álvaro lembrou-se de organizar a caminhada de Natal, criou o grupo no WhatsApp.
Encontrámo-nos no Monte dos Burgos para
partilhar boleias.
Vimos no carreiro de terra, no
início da subida pela encosta da serra, a placa a indicar que a partir dali entraríamos
numa Zona de Proteção Total (ZPT). Conferenciamos se valeria a pena arriscar a
multa de 250€ por pessoa, caso fossemos apanhados sem autorização do Instituto
de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF). A Teresa contou que há uns
meses pagou multa porque o seu grupo de
onze pessoas foi apanhado sem autorização numa ZPT. Os fiscais arrecadaram 2250
euros. Foram implacáveis, inflexíveis e desagradáveis. Estavam no fim do trilho
propositadamente para cobrar a multa, em vez de estarem no início e avisá-los
para não o percorrerem. A Manuela disse
que as pessoas locais não gostam deles. Imagino guardas florestais contratados a uma empresa privada para fazer a
vigilância, com uma breve formação dada
pelo ICNF e pouco mais. Sem sensibilidade, ou formação ambiental adequada. Cobradores
de multas, apenas. Pouco mais do que fiscais de estacionamento.
Pode-se entrar na ZPT com autorização
passada pelo ICNF, por intermédio de pedido através do email. Toda a informação disponível neste documento.
Pouco depois ouvimos o ecoar de
motores na serra, eram motas que vinham de Campo por um estradão de terra no
meio da serra até à Estrada Nacional. O ruído incomoda muito mais do que uns
meros caminhantes que não vão recolher plantas nem animais ou deixar lixo, pelo
contrario, no verão até podem ser úteis na
prevenção dos incêndios. Quem se aventura na serra tem espírito ambientalista, está interessado em manter a natureza intacta para
voltar a reencontrá-la da mesma forma.
Vários carros passaram por nós no
regresso ao Leonte.
A interdição da circulação de veículos
motorizados em determinadas áreas, nomeadamente na mata da Albergaria, seria uma
medida com resultados mais eficazes na proteção ambiental.
Decidimos fazer a subida ao Pé do Cabril. Partimos das traseiras da
casa abandonada do guarda florestal, subimos pelo trilho bem delimitado. Viramos
à esquerda na seta branca, seguimos as mariolas até ao sopé do rochedo. Almoçamos
sentados sobre a superfície polida da rocha, despimos os casacos e camisolas de
inverno, ficamos de manga curta usufruindo o sol e o calor tépido. O Álvaro
levou uma garrafa de vinho verde branco de castas Alvarinho e Trajadura. Brindamos.
Partilhamos comida. Estávamos bem dispostos. Humorizamos com o “restaurante”, pelas vistas magníficas, únicas, pela comida e
bebida que adquiria um sabor especial na
companhia de bons amigos, ao ar livre. Um restaurante digno de estrelas Michelin. Víamos a imponente fraga do Pé do Cabril, paredes maciças próximas de nós. A Lurdes
telefonou ao marido, disse-lhe como estava alegre, descreveu o tempo, o local, a
pena de ele não ter ido.
Percorremos as últimas centenas
de metros junto ao sopé do rochedo. Optamos
por não subir mais, nem o contornar. Lembro-me bem do medo e das vertigens que
senti quando tive de saltar de uma fraga à outra, sobre a fenda que as separa. O
episódio ocorrido há alguns anos foi relembrado algumas vezes por nós. Está aqui nesta página do Blog. Desta vez, felizmente, não apanhei sustos. A Teresa também não estava
nas melhores condições de saúde para prolongar mais a caminhada, apesar disso
aguentou-se muito bem. Ninguém diria que estava com os problemas que nos
descreveu.
Um grupo numeroso de caminhantes
descia pelas encostas do rochedo. Entabulamos conversa e, no meio da serra, no meio do nada, a Lurdes
reencontra dois companheiros. Ficaram a palrar alguns minutos, relembrando outras
caminhadas. Víamos ao longe os rebordos montanhosos de cordilheiras envoltas em
neblina azul e nuvens brancas, o imenso céu cobrindo as encostas verdejantes
do Gerês.
Eu e a Manuela fizemos um
invertida.
Regressamos ao Leonte, paramos
para lanchar no parque de merendas antes das Caldas do Gerês, bebemos mais uma
garrafinha de vinho verde branco, comemos bolo rei e tangerinas sumarentas do
quintal.
Dali foi um tirinho até ao Porto,
hora e meia sem parar. Chegamos a casa com o desejo de regressar mais vezes ao Gerês.
Outras fotografias da malta:
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