terça-feira, 1 de agosto de 2023

Reserva Natural das Dunas de São Jacinto

 


Chegamos a meio da tarde, a tempo de ouvir a guia dizer-nos para termos cuidado com os borrelhos-de-coleira-interrompida. Pediu para quando chegássemos ao mar não pisarmos as dunas, é época de nidificação e poderíamos destruir os ovos que escondem na areia.  Insistiu.

Seguimos os postes de madeira que indicam os três trilhos pedestres da reserva natural, cada qual sinalizado por um triângulo vermelho, verde ou azul, coincidentes em algumas partes.  O mais longo é o vermelho:  7,5 km de percurso circular entre o centro de interpretação e o mar. 

Fomos caminhando sobre a terra arenosa e  macia, debaixo da sombra dos pinheiros, choupos e medronheiros frondosos. Ouvia-se constantemente o rumorejar das ondas, vindo de detrás das dunas na nossa frente, repletas de vegetação. Outro som que igualmente nos acompanhou foi o  canto das cigarras e o trinar melodioso de uma ou outra ave que não identificamos. Cruzamo-nos com outros visitantes, contudo estivemos quase sempre sozinhos,  marchando solitários sobre a areia, os musgos, as ervas secas e as agulhas que atapetavam o chão pejado de pinhas.  Apeteceu tirar as sandálias e caminhar com os pés descalços, mas  o receio de os arranhar foi mais forte. Os bancos de madeira colocados ao longo do trajeto convidavam à contemplação, sentados debaixo das  copas. Os painéis iam indicando o tipo de fauna e de flora mais comum.

Finalmente, encontramos as camarinhas, um dos motivos pelos quais decidimos fazer a caminhada. É a época delas. As camarinheiras estão em fruto,  em algumas partes pairava no ar o leve rescender   das suas pequenas bagas. Olor inconfundível, fresco e ácido, tal como o seu sabor, lembrando o mar e a maresia característicos do verão.  É uma espécie em declínio, sensível às modificações ambientais, à poluição atmosférica e às alterações na constituição do solo. Cada vez menos comuns, aqui ainda é possível encontrar arbustos repletos destes brincos de pérolas. 

Chegamos ao mar por um longo passadiço de madeira protegendo  as dunas, ao fim do qual  uma placa dizia para não avançar mais.  Quatro pessoas estavam de pé na areia,  observando em silêncio a paisagem selvagem.  Lembrei-me das palavras da guia. Não ouvimos borrelhos-de-coleira-interrompida chateados. 

Uma neblina desceu sobre a água,  formando uma cortina cinzenta de nuvens que se confundia com o mar. A imagem de um dos visitantes na orla da maré parecia diluir-se no horizonte.

Regressamos ao ponto de partida, visitando o  refúgio de observação da Pateira Grande: Silêncio Absoluto. Não vimos uma única ave,  a superfície da água movia-se suavemente  com o vento, levantando  pequenas gotículas. Estivemos atentos alguns minutos e depois seguimos em direção ao Centro de Interpretação.

O percurso vermelho teve a duração de duas horas e meia, fácil, apropriado em qualquer altura do ano. Antes de iniciar a caminhada deve ser feito o registo no centro, situado na estrada de São Jacinto. Possui  painéis, imagens e objetos que contam a história geológica deste cordão, que protege a ria de Aveiro do avanço do mar, e a importância ambiental  da reserva natural, tutelada pelo Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas. 

A guia dando orientações do percurso


Amoras bravas





Mapa com os trilhos

Poste com os triângulos de indicação de percurso


Camarinha


Camarinheira







Pateira Grande


Mais camarinhas maduras, prontas a comer



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