terça-feira, 11 de julho de 2023

Policrises

 



A comunidade científica diverge quanto aos cenários futuros, relativamente ao empobrecimento social, ecológico e às consequências das alterações climáticas na humanidade.

O planeta atravessa uma  conjugação de várias crises, a policrise, de consequências mais poderosas e destrutivas do que a soma, em separado, dessas crises. Subdividem-se  em dois aspetos: o ambiental e o social. Os sinais da crise ambiental incluem as alterações climáticas, a redução dos espaços selvagens, o esgotamento imparável dos recursos, a poluição crescente do ar e da água, a escassez de água potável e a destruição dos solos férteis. No aspeto social as evidências são a desigualdade económica crescente, a pobreza, a utilização intensa e imprevisível da tecnologia, o racismo, e outras formas de discriminação, de que resultam a ascensão do autoritarismo,  relegando para segundo plano as  preocupações ecológicas com a recuperação ambiental e a construção de sociedades mais resilientes aos impactos das alterações climáticas.  

Colocam-se as opções de continuar a acreditar que o crescimento económico e o consumo de recursos trarão um futuro parecido com o presente, com mais tecnologia, riqueza e mobilidade. Ou o dever, e o compromisso, de alterar o paradigma socioeconómico, devotando os esforços da humanidade a uma diminuição progressiva e “graciosa” da sua complexidade.

Em 1972 foi publicado o estudo: “Os Limites do Crescimento”, que conjugou três fatores: crescimento populacional, crescimento do consumo e o esgotamento dos recursos. Baseando-se em modelos computacionais os autores concluiram que, a manter-se o atual paradigma económico, a sociedade industrializada, como a conhecemos, colapsará provavelmente em meados do século XXI. É teoricamente possível um apocalipse nuclear e o fim da humanidade. O mais provável será, contudo, um futuro caracterizado por turbulência social, económica, política e ecológica, intercalado por alguns momentos de acalmia em que a solidariedade prevalecerá.

A humanidade não pode cair na autoflagelação, seguindo o rumo insano de esgotamento dos seus recursos sem considerar outras alternativas. Devem ser fortalecidas a cooperação local e as estratégias que promovam a resiliência social, económica e ambiental.  As opções políticas que faziam sentido antes da policrise, como o crescimento económico permanente, devem ser substituídas pela vontade de construir uma maior resiliência ao nível local. É fundamental a cooperação para racionalizar o uso de recursos cada vez mais escassos, aumentando as hipóteses de sobrevivência e uma vida digna ao maior número possível de seres humanos.

Construímos uma civilização global de complexidade, riqueza e desigualdade tremendas, dependente do consumo e extração crescente de recursos e de combustíveis fósseis, altamente poluentes.

Deve ser imaginado o futuro, colocando a seguinte questão:

Que feitos alcançados pela humanidade os seus descendentes distantes quererão receber?

Ninguém quererá um planeta devastado. Os nossos descendentes apontarão o dedo aos antepassados sabendo o quão confortável e aconchegante ele era. Ficarão chocados com a ostentação e a destruição inútil dos seus recursos. Ou talvez não.

Referência: 

Heinberg, Richard, Coming Soon to a Planet Near You: Polycrisis, Unraveling, Simplification, or Collapse, Common Dreams, 22/06/2023


Praia dos Pescadores, Espinho


Sem comentários: