sábado, 2 de julho de 2022

Turistando em Ovar

 


Os dois pescadores encontravam-se no esteiro, cada um com a sua cana de pesca. Um deles puxou o fio para fora com uma tainha agarrada ao anzol. Foi o primeiro peixe do dia. Pela expressão que fizeram deviam estar ali há um bom tempo. Habitualmente pescam bogas, carpas e enguias, “mas essas gostam de dar baile”. Em alguns locais a água está estagnada, eutrofizada com limos verdes.  Os esteiros fazem a ligação aos canais lamacentos da ria de Aveiro, por eles se transportava o moliço que fertilizava os campos.   Neles se construíram açudes e comportas para desviar e controlar a entrada da água.

Os terrenos são particulares. Vacas de raça marinhoa, robustas,  de boa carne, pastavam nos  prados - outrora puxavam  os barcos na arte da Xávega e os arados que sulcavam os quintais.  As cegonhas nos ninhos  nas torres de eletricidade  estavam alheadas de nós, de repente uma delas decidia levantar voo e atravessava graciosa o céu. Milhafres planavam no ar. Noutros terrenos cresce mato e cultiva-se milho. Juncos e  junça crescem na água. Os amieiros, salgueiros e choupos ladeiam o trilho que percorremos. Por vezes um trator passava por nós. Chama-se “Bocage” a estes terrenos labirínticos, divididos por canais, trilhos, arbustos, irrigados e férteis.

Sentimo-nos realmente como se estivéssemos num labirinto, procurando o trilho correto – o PR8 de Estarreja, Percurso de Fermelã. Cruza-se com outros  e surgem  desvios.  Baralhou-nos. Faltavam marcações, voltamos atrás e recomeçamos no painel de início da rua do Carregal.  Seguimos a intuição nas bifurcações que encontramos quando tivemos dúvidas no  caminho a seguir. Correu bem. O tempo esteve bom e havia geralmente sombra. Chegamos ao ponto de partida ao fim de duas horas e dez quilómetros de caminhada, fazendo o que estava previsto. Fomos seis professores, cinco da mesma escola e uma outra com saudades de regressar a ela. Colocamos o aviso no What's Up do grupo, arranjamos uma caminhadazinha leve. Mesmo assim não houve muita adesão. Mas como se costuma dizer, "poucos mas bons." 

Almoçamos no restaurante “Churrascaria do Portal”, logo a seguir à placa de fim de freguesia (Fermelã) na EN 109 no primeiro desvio à direita. Como é habitual nestes locais, almoçamos bem e barato. As lulas grelhadas estavam au point, com batata a murro, acompanhadas com um delicioso molho de azeite e vinagre com cebola picada. Dei os parabéns ao chef.  O Quinta do Cabriz branco fresquinho caiu muito bem e a sobremesa de mousse de ananás também.

Paramos no centro de Ovar e decidimos turistar um pouco. Visitamos o Museu Júlio Dinis – uma casa Ovarense. Representa uma casa rural aristocrática do século XVIII, pertenceu ao tio paterno do escritor, cujo pai era natural de Ovar. Quando lhe foi diagnosticada tuberculose aos 17 anos passou a frequentar localidades fora do Porto, procurando ares mais saudáveis em Ovar, Grijó e na ilha da Madeira. Dizem que foi aqui que se inspirou para escrever os romances “A Morgadinha dos Canaviais” e “As pupilas do senhor Reitor”. É bem possível. O Sr. Mário, o nosso cicerone, contou que o escritor se colocava na escrivaninha, que ainda é a original, assim como a mobília da casa, encostada à janela da sala, a escutar e a transcrever o que ouvia na rua. Os seus contos e romances terão muitas transcrições por ele realizadas sentado nesta cadeira. As personagens são inspiradas em pessoas reais. Eu que li a Morgadinha dos Canaviais garanto que a geografia do romance não é Ovar, mas sim as freguesias do sul do concelho de Vila Nova de Gaia. Mas claro, é muito possível que nas suas personagens tenha introduzido traços de pessoas que conheceu noutros lugares e os seus romances contenham uma amálgama de referências e inspirações diversas.  

Ovar é conhecido pelas fachadas de azulejos das suas casas e pelo seu famoso pão-de ló. O melhor pão-de-ló é o do “Pito”, por ser húmido e ter gemas cruas.  Entramos na casa Guida compramos rosquilhas, raivas, telhas e o pão-de-ló,  do “pito”.  Uma das casas que o fabrica.

Vagueamos mais um pouco pelo centro, entramos por engano num bar a julgar que era o museu de Ovar. Bem dispostos, rindo-nos dos enganos e com alusões à festa privada com consumo mínimo de 250 € que estava a decorrer à porta fechada numa casa senhorial.

As fotografias não são todas minhas. Se as vires não te chateies comigo. Retiro-as se quiseres. É que estão com muita qualidade e achei que ficam giras aqui. 

 

Casa Museu Júlio Dinis

Casa Museu Júlio Dinis

Casa Museu Júlio Dinis

Casa Museu Júlio Dinis

Casa Museu Júlio Dinis

Casa Museu Júlio Dinis

Casa Museu Júlio Dinis

PR8 - Percurso de Fermelã

Fachada de Azulejos no centro de Ovar

PR8 - Percurso de Fermelã

PR8 - Percurso de Fermelã

EN 109

Centro de Ovar

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