Os dois pescadores encontravam-se
no esteiro, cada um com a sua cana de pesca. Um deles puxou o fio para fora com
uma tainha agarrada ao anzol. Foi o primeiro peixe do dia. Pela expressão que
fizeram deviam estar ali há um bom tempo. Habitualmente pescam bogas, carpas e enguias,
“mas essas gostam de dar baile”. Em alguns locais a água está estagnada, eutrofizada
com limos verdes. Os esteiros fazem a
ligação aos canais lamacentos da ria de Aveiro, por eles se transportava o
moliço que fertilizava os campos. Neles se construíram açudes e comportas para
desviar e controlar a entrada da água.
Os terrenos são particulares. Vacas
de raça marinhoa, robustas, de boa carne, pastavam nos prados - outrora puxavam os barcos na arte da Xávega e os arados que
sulcavam os quintais. As cegonhas nos ninhos nas torres de eletricidade estavam alheadas de nós, de repente uma delas
decidia levantar voo e atravessava graciosa o céu. Milhafres planavam no ar. Noutros
terrenos cresce mato e cultiva-se milho. Juncos e junça crescem na água. Os amieiros, salgueiros
e choupos ladeiam o trilho que percorremos. Por vezes um trator passava por
nós. Chama-se “Bocage” a estes terrenos labirínticos, divididos por canais,
trilhos, arbustos, irrigados e férteis.
Sentimo-nos realmente como se estivéssemos
num labirinto, procurando o trilho correto – o PR8 de Estarreja, Percurso de
Fermelã. Cruza-se com outros e surgem desvios. Baralhou-nos. Faltavam
marcações, voltamos atrás e recomeçamos no painel de início da rua do Carregal. Seguimos a intuição nas bifurcações que encontramos quando tivemos dúvidas no caminho a seguir.
Correu bem. O tempo esteve bom e havia geralmente sombra. Chegamos ao ponto de
partida ao fim de duas horas e dez quilómetros de caminhada, fazendo o que
estava previsto. Fomos seis professores, cinco da mesma escola e uma outra com saudades de regressar a ela. Colocamos o aviso no What's Up do grupo, arranjamos uma caminhadazinha leve. Mesmo assim não houve muita adesão. Mas como se costuma dizer, "poucos mas bons."
Almoçamos no restaurante “Churrascaria
do Portal”, logo a seguir à placa de fim de freguesia (Fermelã) na EN 109 no
primeiro desvio à direita. Como é habitual nestes locais, almoçamos bem e
barato. As lulas grelhadas estavam au point, com batata a murro, acompanhadas
com um delicioso molho de azeite e vinagre com cebola picada. Dei os parabéns
ao chef. O Quinta do Cabriz branco
fresquinho caiu muito bem e a sobremesa de mousse de ananás também.
Paramos no centro de Ovar e decidimos
turistar um pouco. Visitamos o Museu Júlio Dinis – uma casa Ovarense. Representa
uma casa rural aristocrática do século XVIII, pertenceu ao tio paterno do
escritor, cujo pai era natural de Ovar. Quando lhe foi diagnosticada tuberculose
aos 17 anos passou a frequentar localidades fora do Porto, procurando ares mais
saudáveis em Ovar, Grijó e na ilha da Madeira. Dizem que foi aqui que se inspirou
para escrever os romances “A Morgadinha dos Canaviais” e “As pupilas do senhor
Reitor”. É bem possível. O Sr. Mário, o nosso cicerone, contou que o escritor
se colocava na escrivaninha, que ainda é a original, assim como a mobília da
casa, encostada à janela da sala, a escutar e a transcrever o que ouvia na rua.
Os seus contos e romances terão muitas transcrições por ele realizadas sentado
nesta cadeira. As personagens são inspiradas em pessoas reais. Eu que li a
Morgadinha dos Canaviais garanto que a geografia do romance não é Ovar, mas sim
as freguesias do sul do concelho de Vila Nova de Gaia. Mas claro, é muito
possível que nas suas personagens tenha introduzido traços de pessoas que
conheceu noutros lugares e os seus romances contenham uma amálgama de
referências e inspirações diversas.
Ovar é conhecido pelas fachadas
de azulejos das suas casas e pelo seu famoso pão-de ló. O melhor pão-de-ló é o
do “Pito”, por ser húmido e ter gemas cruas. Entramos na casa Guida compramos rosquilhas,
raivas, telhas e o pão-de-ló, do “pito”. Uma das casas que o fabrica.
Vagueamos mais um pouco pelo
centro, entramos por engano num bar a julgar que era o museu de Ovar. Bem
dispostos, rindo-nos dos enganos e com alusões à festa privada com consumo
mínimo de 250 € que estava a decorrer à porta fechada numa casa senhorial.
As fotografias não são todas minhas. Se as vires não te chateies comigo. Retiro-as se quiseres. É que estão com muita qualidade e achei que ficam giras aqui.
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Casa Museu Júlio Dinis |
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Casa Museu Júlio Dinis |
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Casa Museu Júlio Dinis |
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Casa Museu Júlio Dinis |
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Casa Museu Júlio Dinis |
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Casa Museu Júlio Dinis |
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Casa Museu Júlio Dinis |
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PR8 - Percurso de Fermelã |
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Fachada de Azulejos no centro de Ovar |
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PR8 - Percurso de Fermelã |
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PR8 - Percurso de Fermelã |
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EN 109 |
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Centro de Ovar |
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