Os cartazes no cais de São Roque informam das grandes rotas da Ria de Aveiro, sinalizadas por diferentes cores. Três rotas de centenas de quilómetros, temáticas, para serem percorridas essencialmente em bicicleta. Sítios que contam a história industrial, agrícola, religiosa, ambiental e social destas terras rodeadas de água, ligadas por canais que exerciam um papel fundamental nas atividades económicas da região, unindo pessoas, transportando os produtos retirados da água e dos campos: bateiras, moliceiros, mercantéis, barcos artesanais especializados no transporte de sal, moliço e outros bens.
Sem fazer por isso e sem planos prévios, fui caminhando: 22 km do cais de São Roque ao esteiro de Salreu, pela
rota
azul, atravessando ecovias e passadiços da ria.
Por que não? Tinha tempo, umas tangerinas, água e uvas passas que sobraram do Natal, na pequena mochila. Roupa não muito adequada, mas sapatilhas confortáveis, usadas no
dia-a-dia. O dia de sol estava esplêndido, não choveria, de certeza. Tinha boina
e protetor solar.
Por que não? Ir em frente e depois apanhar o comboio em Estarreja em vez de deambular por Aveiro, que já conheço e onde posso voltar sempre.
Os trilhos de grande rota podem
ser seguidos em vários sentidos, sul, norte, interior, coincidir com outros trilhos: a grande rota do Atlântico, os caminhos de Santiago e pequenas
rotas locais, num emaranhado de trajetos para todos os gostos, à disposição de serem explorados. Sem motores.
Seguindo para norte, ao longo do canal de São Roque, logo após a cabine de madeira (desconheço a sua função) vira-se à esquerda, atravessando a A25 pelo viaduto – a parte menos interessante do percurso. Segue-se a sinalização, caminhando mais 30 minutos, até ao cais de Esgueira. Local com estacionamento, bar e placas informativas onde começam os passadiços de madeira sobre a ria. Caminha-se até Vilarinho por trechos de terra e matos, essencialmente de eucaliptais, passando por belas vivendas ajardinadas com vistas soberbas para a ria.
Painéis interpretativos informam da flora e fauna mais comum. Várias pessoas percorrem o passadiço.
Mais à frente, a partir do cais
do Príncipe do Rio Novo, raramente me cruzarei com pessoas. Serão os trechos
mais interessantes, a paisagem torna-se
mais variada. Atravesso o rio Vouga, sigo por uma estrada bucólica no concelho de
Albergaria-a-Velha, partilhada por outros trajetos de pequena rota locais. Entro
nos trilhos do Bioria, pertencentes a Estarreja.
A sinalização da grande rota azul vai surgindo em marcos de madeira que indicam a distância que falta para chegar ao centro de Estarreja.
Encontro-me numa encruzilhada de
trilhos muito interessantes para serem percorridos de bicicleta ou a pé, na
totalidade ou em parte.
De bicicleta, deve ser verdadeiramente fascinante atravessar estes labirintos de terras transformadas pelo homem em campos agrícolas, o Bocage - mosaico de culturas e pastagens variadas, onde se encontram cavalos e vacas de raça
marinhoa.
Percorro caminhos entre um silêncio absoluto, interrompido apenas pelo grito
das ocasionais cegonhas e garças que levantam voo assustadas, por detrás dos caniços.
Termino junto ao Centro de Interpretação Ambiental de Salreu. Famílias passeiam nas bicicletas alugadas. Sigo mais 20
minutos a pé, até ao apeadeiro. Ninguém na linha, silêncio. Uma voz feminina, gravada,
debita do altifalante: “Senhores passageiros peço a vossa atenção para a
passagem de um comboio sem paragem na linha número 1. Mantenham-se atrás da linha de segurança.” O Alfa pendular passa veloz três
metros à minha frente - massa gigantesca
num movimento louco que estilhaçaria qualquer objeto à sua frente. Parece que
vou ser arrastado pela sucção do vento. Seguro-me bem ao cadeirão metálico.
Volta o silêncio e o vazio ao apeadeiro solitário. Aguardo a paragem do próximo suburbano.
Outros Links:
Percursos de
Albergaria-a-Velha
Batel na ria de Aveiro |
Mural de azulejos junto à capela de São Gonçalinho, Aveiro |
Pormenor do percurso que eu iria iniciar entre o cais de São Roque e o esteiro de Salreu |
Placa informativa no início do passadiço, cais de Esgueira |
local de observação |
A distância que eu tinha pela frente |
Clube de Canoagem de Cacia |
Ponte do rio Novo do Príncipe |
Rio Vouga |
"sigo por uma estrada bucólica no concelho de Albergaria-a-Velha" |
A aproximar-me dos trilhos do Bioria |
Torre instável junto às comportas de Canelas |
Comportas de Canelas |
Centro de Interpretação Ambiental, Bioria |
Um dos vários painéis do percurso |
A ria e o céu azul |
Sem comentários:
Enviar um comentário