Ugharetta podia ser uma aldeola perdida
de Portugal, das muitas que temos abandonadas nas serras. Restos de muros e
telhados de xisto, invadidos pelas silvas. Há muito tempo atrás habitadas por famílias numerosas partilhando quartos exíguos, sem condições materiais.
Essas pessoas trabalhavam nos
campos, tinham uma vida difícil, passavam por invernos rigorosos, com pouca
comida para muitas bocas. Dominadas pelo
poder da igreja e do estado, temerosas e supersticiosas. Quando saiam para longe levavam de recordação um pequeno
saco de terra, a sua maior riqueza – terra
que lhes dava o sustento de plantas e animais.
Tal como os nossos antepassados
que no século XIX emigraram para o Brasil em períodos de carístia, nessa aldeia
do Norte de Itália os homens iam para as obras na Suíça e na França construir estradas
e túneis que atravessavam os Alpes, escavando
e dinamitando rochedos intransponíveis. Assim passavam períodos de tempo após
os quais regressavam novamente à aldeia.
Não tinham qualquer poder de decisão sobre o seu futuro. Eram carne para canhão, chamados para as
guerras do império que o seu país quis construir em África, tal como os nossos “serranos”
mandado para o norte de Moçambique e Flandres na primeira guerra mundial combater Alemães, morrendo como moscas, vendo os
companheiros aniquilados sem saber porquê. Apenas porque os mandaram cumprir os
desígnios da nação.
Os italianos eram considerados bons
trabalhadores, obedientes, despolitizados. Gostavam deles. Um pouco como os portugueses
em muitas outras partes.
Há muitos pontos de contacto
entre os países e histórias comuns de milhares de aldeãos que viveram situações
semelhantes em locais e países distantes.
O filme conta a historia do avô Italiano do autor, Alain
Ughetto, e de como construiu uma vida melhor noutro país, a França – le paradis.
O autor cresceu na prosperidade do pós-guerra, em que termina de contar a história, fazendo a ligação com o passado.
Filme animado com bonecos de
plasticina, cartão e objetos do quotidiano, dando um efeito ternurento e
sentimental aos seus antepassados, às vicissitudes e tragédias várias que viveram,
tornando-o comovente e uma agradável sessão de cinema.
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