domingo, 20 de outubro de 2024

Megalopolis

 


A mitologia do império Romano adaptada a Nova Iorque. Francis Ford Copola  transforma a cidade numa “Nova Roma”, viciosa e depravada cuja decadência a coloca no limiar do princípio da anarquia.  Analogia com o estado  da política americana e do mundo.  Projeto obsessivo que o realizador guardava há muitos anos, interrompido   no início do século devido aos  ataques ao World Trade Center. Algo que seria muito difícil de aceitar - uma das cenas do filme é a visualização dos céus  de Nova Roma em chamas. Seriam imagens terrivelmente coincidentes com o maior ataque de sempre a Nova Iorque. Não era o momento certo para o concretizar.

A distância de  vinte e dois anos da manhã que abalou o mundo no dia 11 de setembro de 2001 permite o distanciamento e a frieza necessária,  e talvez a aceitação política sem chocar a cidade e os nova iorquinos, apresentando um filme assaz polémico e próximo das  eleições nos Estados Unidos.  Algumas  características das suas piores personagens parecem  encarnar num dos candidatos – propositadamente  caracterizadas com esse intuito?

O realizador investiu toda a sua criatividade, genialidade e cultura clássica na realização do filme. Citações de Shakespeare e Marco Aurélio, adereços que podiam ser de palácios romanos, vestais convertidas em estrelas POP, o circo romano em sociedade do espetáculo.

Obra prima megalómana que o realizador pretendeu deixar à posteridade -  O seu último filme? - Megalópolis megalómana,   legado esteticamente poderoso de uma fábula política dos Estados Unidos.  Os impérios desfazem-se por dentro, não são os inimigos externos os mais perigosos, são os internos. Há algo assim, de subliminar, permanentemente transmitido. Do risco de destruição autofágica.

No filme, os grandes responsáveis pelas decisões políticas  são banqueiros,  mayors e assessores intriguistas, sedentos de glória.  O povo não passa de ator secundário, manipulado, sem qualquer poder. O mundo utópico de Megalopolis chega pelo talento  de um visionário genial, altruísta,  com  dilemas morais e fantasmas do passado a assombrá-lo. Lembra o “Joker”, o primeiro de Joaquim Phoenix, na dinâmica das turbas impensantes e furiosas arrastadas pelos discursos dos lideres populistas e de heróis de ocasião. A história constrói-se pela persuasão dos grandes líderes.

FFC faz parte do sistema de  Hollywood, do seu glamour,   e como tal habituou-se o  ver o mundo “de cima”, desconhecendo a realidade das dinâmicas sociais. E aqui o filme torna-se num produto típico incapaz de disfarçar a sua origem, não é  defeito, mas o   realizador não consegue ir além do  pedigree. Apesar da indiscutível originalidade,  continua a ser  mainstream. Made in Hollywood.    


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