Uma visão diferente da história
de Portugal, a partir de "baixo", dos movimentos sociais e das
dinâmicas revolucionárias, do povo em ação, procurando a melhoria da sua condição material,
afirmando-se como sujeito do seu destino.
As narrativas históricas vigentes são contadas pelos vencedores - as
classes detentoras do poder económico e político. Raquel Varela e Roberto Della Santa desfazem o mito
do Estado-Nação benévolo, criação "burguesa" que reprime os
movimentos utópicos e solidários dos
povos, oferecendo uma visão internacionalista da história, dos trabalhadores e
operários, unidos contra a opressão de
um estado que não os representa, mas sim
ao capital transnacional, contra a
competição do mercado que os descarta com maus salários, precariedade e a
ameaça constante do despedimento.
As revoluções liberais do século
XIX não foram mais do que a substituição do ancient regime, de uma velha
aristocracia latifundiária, por um regime burguês que representava uma nova
forma de acumulação do lucro. A implantação da República foi uma revolução que
surgiu no contexto do "capitalismo tardio" português, incapaz de solucionar a permanente crise
social do país. Mudou o regime mas manteve inalteradas as relações intrínsecas e
estruturais de domínio de uma classe minoritária sobre a maioria miserável da
população. Raquel Varela e Roberto Della Santa dão-nos uma perspetiva muito diferente dos discursos oficiais e da ensinada nas escolas. As tensões e os conflitos sociais crescentes viriam a ser reprimidas com o
"pacto" entre proprietários,
monopólios económicos, igreja, polícia e exército no Estado Novo. O Fascismo.
De realçar a emoção com que Raquel Varela narra o período revolucionário pós 25 de abril. É
evidente a sua simpatia com o povo que
tomou o destino nas suas mãos.
Gostei das constantes
referências a livros, filmes,
autores, contextualizando os diferentes
períodos retratados no livro com os movimentos artísticos, demonstrando que
arte, política e cultura são indissociáveis.
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