Argel, 1965
“A cidade é grande, cheia de luz, e desce sobre
a baía em forma de anfiteatro. Para a percorrer anda-se sempre a descer ou a
subir. Há ruas chiques à francesa e ruas árabes cheias de confusão. Há uma
mistura mediterrânica de arquitetura, vestimenta e costumes. Tudo deslumbra,
cheira, embriaga, cansa. Tudo chama a atenção, atrai, fascina, mas, ao mesmo
tempo, inquieta. Quem estiver cansado pode sentar-se numa das várias centenas de
cafés árabes ou franceses e comer num dos inúmeros bares ou restaurantes. Como
o mar está perto, há uma abundância e riqueza infinita de peixes, mariscos,
moluscos, búzios, calamares, polvos e sapateiras.
Lá em baixo, estendia-se o
bairro portuário, e viam-se tascas de madeira que cheiravam a peixe, vinho e a
café. Mas, sobretudo, a brisa trazia o cheiro suave e refrescante da maresia
que acalmava.
Nunca antes tinha estado num
lugar em que a natureza fosse tão aprazível para o homem. Havia tudo ao mesmo
tempo: o sol e o vento fresco, o ar límpido e o mar cor de prata. Talvez porque
tivesse lido muito sobre ele me parecera tão familiar. Nas suas ondas suaves
havia paz, harmonia e algo como um convite para viajar e conhecer. Tinha vontade
de embarcar com dois pescadores que naquele momento saíam do cais.”
Ryszard Kapuscinski, Andanças
com Heródoto.
Por estar recluso em casa,
certos textos me parecem mais intensos e belos como é o caso deste. Convidam a
outras viagens, que não físicas, mas mentais, do meu quarto ou do banquinho de praia,
a apanhar o sol da varanda.
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Sobre o assunto do momento:
traduzo livremente algumas frases
e ideias do artigo Nature`s
Revenge: climate change and COVID-19.
A pandemia do Coronavirus não é
um acidente, é um aviso de que a natureza está farta das atividades ecocidas do
homem. O planeta está a responder à destruição provocada por ele.
Se os chefes de estado se comprometerem
a, nos próximos dez anos, acabar com
dependência dos seus países em combustíveis fósseis, pesca excessiva, plásticos,
desflorestação, pesticidas e agricultura industrializada, talvez haja uma
reviravolta na direção a pandemias cada vez mais potentes, temperaturas mais
elevadas e ao colapso do planeta.
Os peritos das nações
unidas informam que a humanidade tem dez anos para evitar danos irreversíveis.
Os cientistas classificam esta época como o Antropoceno. Os humanos transformaram
a ciência e a tecnologia em armas de conquista, provocando calamidades,
destruindo seres vivos, enchendo a terra de venenos, plásticos, petróleo e
poluição. Não podemos continuar a matar e a levar à extinção animais e plantas
selvagens e outras inumeráveis formas de vida sem uma violenta resposta.
Noutro
artigo, o autor propõe imaginar que o coronavírus matará sete milhões de
pessoas este ano. O número seria um
choque caso isso sucedesse, contudo este é o número de pessoas que todos os
anos morre devido
à poluição atmosférica.
Não é só a poluição atmosférica
que mata: ondas de calor, furacões, secas e doenças que se agravam com as
alterações climáticas e que não tem a atenção da comunicação social e dos
políticos como está a ter esta pandemia.
A quarentena na China causou uma redução drástica de gases com
efeito de estufa, em apenas duas semanas reduziram-se as emissões em
100 milhões de toneladas de métricos cúbicos.
O coronavírus é uma oportunidade
histórica para mudar hábitos, pequenos e grandes. As nossas atividades têm
impacto, não só na nossa saúde pessoal como na dos nossos vizinhos e
comunidade. O coronavírus é um assassino, mas podemos aprender muito com ele.
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