Caro António Guterres,
tenho uma grande estima e consideração por si. Lembro-me
perfeitamente do seu discurso humanístico e de causas, quando foi primeiro
ministro de Portugal. Frases que me ficaram na memória do seu governo, sobre as
pessoas, mais importantes do que os “números” económicos, e a importância que
atribuiu à educação.
Como Português fiquei orgulhoso ao vê-lo ocupar o cargo tão
importante e de grande responsabilidade de Secretário Geral das Nações Unidas,
como Português também sei, por conhecê-lo da política nacional e das causas que
defendeu anteriormente, o quão merecido lhe foi a atribuição do cargo.
Caro António Guterres,
a maior causa de sempre da história do planeta é a luta
contra as alterações climáticas, porque dela depende a sobrevivência do próprio
planeta. De nada terá valido a evolução técnica, científica e filosófica, as
maravilhas criadas pelo engenho humano, onde se incluem as mais diversas e
sublimes manifestações artísticas, se não formos capazes de impedir a destruição
deste maravilhoso embrião que gerou a diversidade extraordinária de vida e
cultura, onde todos construímos os
nossos laços afetivos, onde amamos e sonhamos.
A luta contra as alterações climáticas é indissociável de todas
as outras lutas.
O respeito pela autonomia dos povos, a justiça social, o
direito básico à alimentação, a uma vida saudável e tranquila, estão
relacionadas com a preservação dos ecossistemas planetários, onde residem
inúmeros povos e culturas de uma incrível diversidade, construída ao longo de
milhares de anos.
A Organização das Nações Unidas é talvez a maior criação
política da humanidade, dela resultou a Declaração Universal dos Direitos do
Homem e a Carta da Terra, que emancipam a igualdade e a liberdade que todos os
humanos desejam e o respeito por todos os suportes de vida que permitiram o florescimento
desta tão complexa e, simultaneamente, tão frágil civilização.
Caro António Guterres,
considero que as Nações Unidas, como órgão supra nacional,
acima dos interesses territoriais, de verdadeira índole altruísta, tem o maior
de todos os desafios: sensibilizar os
estados -nação, respetivos líderes políticos e económicos, grupos empresariais e
multinacionais, que o crescimento económico e o lucro de nada valem, se não
formos capazes de ter um ambiente são.
O dinheiro não salvará ninguém de uma atmosfera venenosa,
que insidiosamente se vai criando, do lixo crescente e dos alimentos contaminados.
Chegou o momento de mudar o rumo extrativista que rege as relações
económicas: ouçamos as vozes dos povos indígenas, cuja sabedoria ancestral nos ensina
que somos todos filhos da terra, ouçamos a sua voz, respeitemos o ritmo e a
homeostasia dos ecossistemas.
Caro António Guterres,
o senhor e eu fomos abençoados por recebermos um planeta belo e termos a
oportunidade de assistir a algumas das suas maravilhosas dádivas: o senhor, com as suas raízes na Beira Baixa, terá visto
a neve cair na serra da Estrela, cobrindo de um manto branco o vale de Manteigas,
o imenso céu azul estendendo-se até Espanha, o Zêzere límpido e rumorejante correndo entre as bétulas junto ao Covão da Ametade; eu, com as
minhas raízes no Minho e Douro Litoral, posso dizer que ainda sou do tempo em que se
apanhavam enguias e trutas nas ribeiras que desaguavam no Douro, dos imensos
carvalhais na serra do Gerês e dos lobos na serra de Freita.
O nosso maior desafio é dar aos vindouros as mesmas oportunidades de assistir às maravilhas que o planeta criou.
O nosso maior desafio é dar aos vindouros as mesmas oportunidades de assistir às maravilhas que o planeta criou.
Seremos capazes?
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