segunda-feira, 1 de abril de 2019

O Chamado Desenvolvimento Sustentável (DS)



O conceito surgiu em 1987, redigido pela Comissão Mundial para o Ambiente e Desenvolvimento, das Nações Unidas, o relatório  Our Common Future,  que  ficou conhecido pelo  “Relatório Brundtland”,  nome da principal relatora, a primeira-ministra Norueguesa, Gro Harlem Brundtland. Tornou-se um  documento de referência internacional por formular o conceito de Desenvolvimento Sustentável: “Humanity has the ability to make development sustainable to ensure that it meets the needs of the present without compromising the ability of future generations to meet their own needs”, (1) que deu origem ao texto em Português:  atender às necessidades das gerações atuais sem por em causa as necessidades das gerações futuras.
O Espanhol Juan Martinez Alier crítica-o, sem o referir diretamente,   por considerar que a pobreza é a causa da degradação ambiental.  “O Ecologismo dos pobres” (2) defende que o estado de pobreza de muitas comunidades leva-as a lutar pela preservação do meio ambiente: estando excluídas do mercado e tendo este a capacidade de transformar os recursos em bens transacionáveis, a única hipótese de sobrevivência e de autonomia das comunidades é defender  os ecossistemas, antes de serem usurpados pelo mercado. O autor critica, igualmente,  a integração dos recursos naturais na esfera económica, através de práticas científicas, como o uso de pesticidas e de maquinaria; a mercantilização das sementes, impondo aos camponeses novas práticas agrícolas, substituindo-as pelas tradicionais.  
A mercantilização do ambiente vai sendo promovida pelas Nações Unidas. O documento Millennium Ecosystem Assessment formula os serviços dos ecossistemas,  geradores de valor económico: uma perspetiva muito utilitarista da natureza.
O DS pode ser enquadrado num quadro conceptual, em “escada”, no qual se inserem diferentes interpretações e imperativos políticos (3), indo do modelo mais antropocêntrico e utilitarista da natureza, que incluí medidas de regulação da poluição - tipo comando e controlo - exploração de recursos,  crescimento económico, Sustentabilidade Fraca e Forte e terminando no  Modelo Ideal, ecocêntrico, no topo da escada. O último modelo atribui valor intrínseco à natureza, corresponde a modelos de democracia participativa, descentralização política, organização de estruturas sociais da base para o topo, internalização das consequências ambientais e definição de limites à exploração dos recursos.  Promove os princípios de justiça, equidade, responsabilidade e a satisfação das necessidades em detrimento dos desejos,  estabelece ferramentas para a autossuficiência.
O DS na sua versão fraca, na base da escada,  considera que os ganhos são medidos em termos de stock de capital acumulado (CA):  o capital material (CM), que resulta  do desenvolvimento tecnológico e material, mais o capital humano (CH) - a quantidade de conhecimento existente - compensa a perda de capital natural  (CN),  os recursos do planeta:
                            CA = [CM + CH] + CN 
É possível, de acordo com a equação, deixar às gerações futuras uma reserva de capital agregado não inferior ao atual (4). Teoria muito cómoda para justificar o crescimento económico continuo,  contudo  impossível. A extração de recursos   acabará inevitavelmente por se deparar com os limites biofísicos do planeta, colocando em causa o DS, na sua versão fraca. Não haverá capital humano ou tecnológico que valha. 
Destas ambiguidades concetuais resultaram apropriações oportunistas de políticos e empresas, que fizeram uso da maior sensibilização ambiental para fazer ambientalismo de fachada “Cosmetic environmentalism” (5) e muitas desilusões, relacionadas não só com os limites biofísicos, mas também sociais do planeta, agravados pela distribuição desigual da riqueza, gerada pelo crescimento baseado no modelo económico tradicional.
As Nações Unidas talvez estejam a dar azo a este ambientalismo de fachada com os seus documentos que continuam a promover e a fazer acreditar que é possível conciliar crescimento económico com proteção do ambiente. Não há crescimento verde, como atestam relatórios científicos muito credíveis (deverão ler este documento), apesar de continuarem a insistir no contrário. 


(1)     United Nations. (1987). Our Common Future. Report of  the World Commission on Environment and Development. Disponível em https://sswm.info/sites/default/files/reference_attachments/UN%20WCED%201987%20Brundtland%20Report.pdf
(2)     Alier. J.M (1992). O Ecologismo dos Pobres. In revista WANI. Nº 125, Abril de 1992 (pp. 42 a 50)
(3)     Baker, S. (2006). Sustainable Development. Routledge.
(4)     QUEIRÓS. M (2003). Questões para uma agenda contemporânea do desenvolvimento sustentável. Revista da Faculdade de Letras. Geografia I série. XIX. 331 – 343. Porto.
(5)     ROBINSON. J. (2004). Squaring the circle? Some thoughts on the idea of sustainable development. Ecological Economics. 48. 369-384. Elsevier. doi:10.1016/j.ecolecon.2003.10.017


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