sábado, 13 de abril de 2019

Lisboa Almada




Na igreja de São Domingos foi autorizada a primeira irmandade negra de Lisboa.  É um local onde a comunidade africana continua numerosa, feirando no largo. A igreja sofreu um incêndio no dia 13 de agosto de 1959, no interior da nave um painel com capas de jornais da época relembra ao público o sinistro. Por esse motivo, a nave continua despida, ardeu tudo. Sente-se uma imponência austera.
Dali até ao intendente, pela rua do Benformoso, é um mundo totalmente diferente e cosmopolita do resto do país: Africanos, chineses, Indianos, Árabes, Portugueses, turistas. Numa loja indiana compramos especiarias, parece um cliché. A canela tem um cheiro muito mais intenso do que a comprada habitualmente noutros locais. Enchemos um saco com açafrão, caril, cardamomo, gengibre moído e canela. As ruas estão repletas de talhos halal, pequenos restaurantes com os menus variados expostos em fotografias nas tabuletas à entrada, mercearias a vender artigos do Bangladesh. Jantamos num restaurante local, entre Muçulmanos Paquistaneses e turistas de vários países ocidentais: mais brancos do que eu. Cristãos.  Reina  uma alegre tolerância e espírito de comunhão na pequena sala, à volta dos pratos.  Comida saborosa, variada, despretensiosa e acessível no preço. Perguntamos primeiro se podiamos beber álcool, afinal estávamos entre Muçulmanos. "No problem!". O empregado foi à mercearia do outro lado da rua pedir uma garrafa de vinho,  não havia álcool no restaurante. Poucos minutos depois entra um senhor com uma garrafa de Monte Velho e abre-a na nossa frente. Memorável!
Interior da Igreja de São Domingos




No largo do intendente, ouvimos blues de um pequeno bar e entramos para um copo. Um fulano, num gesto muito simpático e generoso, cede-nos o lugar.  Descemos ao Martim Moniz pela Almirante Reis e subimos ao Campo Mártires da Pátria para admirar a estátua do Dr. Sousa Martins, já de noite. Ex - votos colocados em redor atestam o misticismo e o culto que se formou à volta deste médico do século XIX. 
Velas e lápides de cemitério com agradecimentos pelos “milagres” e curas realizadas rodeiam o pedestal. Muito exoterismo e misticismo também, nesta bela Lisboa.
 
Painel de azulejos da  Viúva Lamego, Intendente

Estátua do Dr. Sousa Martins

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Na manhã seguinte entramos na igreja de São Roque,  a “igreja mais bonita de Lisboa”. Os frescos das capelas estão brilhantes e reluzentes, pintados de novo.  Foi  construída em 1505, no reinado de D. Manuel, quando um surto de peste atingiu a cidade.  A relíquia do santo foi encomendada a Veneza, para a auxiliar contra a doença.  Ficou guardada na ermida construída no local, que mais tarde foi ampliada e entregue aos Jesuítas. No museu há muitas peças religiosas. Destaco o cofre relicário Japonês, do séc. XVI,   provavelmente usado pelos missionários Jesuítas no Japão. Depois de ler o livro “Silêncio”, de Shuzaku Endo,  ter visto o filme homónimo de Martin  Scorsese e de conhecer as condições muito difíceis em que os missionários Portugueses pregaram no Japão, impressiona-me  este pequeno objeto, testemunha dessa época.

Cofre-relicário Japonês, séc. XVI


Da parte da tarde entramos na  igreja de Nossa Senhora da Conceição Velha, de fachada Manuelina,  na rua Nova da Alfândega. Local onde os escravos africanos eram batizados quando chegavam a Lisboa. O seguimento com a rua do Arsenal era a “8ª avenida do século XVI”, a rua mais importante do planeta, onde havia produtos de todo o mundo que depois seguiam para outros destinos da Europa.

Igreja de Nossa Senhora da Conceição Velha


Apanhamos o cacilheiro no Cais do Sodré até ao Cais do Gingal em Almada, a velha.

Do cais à rua Elias Garcia é um saltinho. Continua-se a subir  pela calçada do castelo até ao miradouro com o coreto e depois é o Tejo à nossa frente, imenso. Da ponte 25 de abril, à Vasco da Gama,  o largo mar da Palha. Tiro muitas fotografias desta panorâmica incrível.
Alguns restaurantes e  armazéns decadentes espalham-se pelas encostas e margem do rio. Descemos até ao “Ponto Final” e seguimos sentindo a aragem fresca e a ondulação suave nos areais,  até ao ponto de partida.
Busto de Elias Garcia, Rua Elias Garcia













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