Na igreja de São Domingos foi
autorizada a primeira irmandade negra de Lisboa. É um local onde a comunidade africana continua
numerosa, feirando no largo. A igreja sofreu um incêndio no dia 13 de agosto de
1959, no interior da nave um painel com capas de jornais da época relembra ao
público o sinistro. Por esse motivo, a nave continua despida, ardeu tudo.
Sente-se uma imponência austera.
Dali até ao intendente, pela rua
do Benformoso, é um mundo totalmente diferente e cosmopolita do resto do país:
Africanos, chineses, Indianos, Árabes, Portugueses, turistas. Numa loja indiana
compramos especiarias, parece um cliché. A canela tem um cheiro muito mais
intenso do que a comprada habitualmente noutros locais. Enchemos um saco com
açafrão, caril, cardamomo, gengibre moído e canela. As ruas estão repletas de
talhos halal, pequenos restaurantes
com os menus variados expostos em fotografias nas tabuletas à entrada,
mercearias a vender artigos do Bangladesh. Jantamos num restaurante local, entre Muçulmanos Paquistaneses e turistas de vários países ocidentais: mais brancos do que eu. Cristãos. Reina uma alegre tolerância e espírito de comunhão na pequena sala, à volta dos pratos. Comida saborosa, variada, despretensiosa e acessível no preço. Perguntamos primeiro se podiamos beber álcool, afinal estávamos entre Muçulmanos. "No problem!". O empregado foi à mercearia do outro lado da rua pedir uma garrafa de vinho, não havia álcool no restaurante. Poucos minutos depois entra um senhor com uma garrafa de Monte Velho e abre-a na nossa frente. Memorável!
Interior da Igreja de São Domingos |
No largo do intendente, ouvimos blues de um pequeno bar e entramos para
um copo. Um fulano, num gesto muito simpático e generoso, cede-nos o
lugar. Descemos ao Martim Moniz pela
Almirante Reis e subimos ao Campo Mártires da Pátria para admirar a estátua do
Dr. Sousa Martins, já de noite. Ex - votos colocados em redor atestam o misticismo e o culto que se formou à volta deste médico do século XIX.
Velas e
lápides de cemitério com agradecimentos pelos “milagres” e curas realizadas
rodeiam o pedestal. Muito exoterismo e misticismo também, nesta bela Lisboa.
Estátua do Dr. Sousa Martins |
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Na manhã seguinte entramos na igreja de São Roque, a “igreja mais bonita de Lisboa”. Os frescos das capelas estão
brilhantes e reluzentes, pintados de novo. Foi construída
em 1505, no reinado de D. Manuel, quando um surto de peste atingiu a cidade. A relíquia do santo foi encomendada a Veneza,
para a auxiliar contra a doença. Ficou
guardada na ermida construída no local, que mais tarde foi ampliada e entregue aos Jesuítas. No museu há muitas peças religiosas. Destaco o cofre
relicário Japonês, do séc. XVI,
provavelmente usado pelos missionários Jesuítas no Japão. Depois de ler
o livro “Silêncio”, de Shuzaku Endo, ter
visto o filme homónimo de Martin Scorsese e de conhecer as condições muito difíceis em que os missionários Portugueses pregaram no Japão, impressiona-me este pequeno objeto,
testemunha dessa época.
Cofre-relicário Japonês, séc. XVI |
Da parte da tarde entramos na igreja de Nossa Senhora da Conceição Velha, de
fachada Manuelina, na rua Nova da
Alfândega. Local onde os escravos africanos eram batizados quando chegavam a
Lisboa. O seguimento com a rua do Arsenal era a “8ª avenida do século XVI”, a
rua mais importante do planeta, onde havia produtos de todo o mundo que depois
seguiam para outros destinos da Europa.
Igreja de Nossa Senhora da Conceição Velha |
Apanhamos o cacilheiro no Cais do Sodré até ao Cais do
Gingal em Almada, a velha.
Do cais à rua Elias Garcia é um saltinho. Continua-se a
subir pela calçada do castelo até ao
miradouro com o coreto e depois é o Tejo à nossa frente, imenso. Da ponte 25 de
abril, à Vasco da Gama, o largo mar da
Palha. Tiro muitas fotografias desta panorâmica incrível.
Alguns restaurantes e armazéns decadentes espalham-se pelas encostas
e margem do rio. Descemos até ao “Ponto Final” e seguimos sentindo a aragem
fresca e a ondulação suave nos areais, até ao ponto de partida.
Busto de Elias Garcia, Rua Elias Garcia |
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