Os amieiros devem ter sido muito abundantes nas margens dos rios de Lazarim. É dessa madeira que são feitas as máscaras de Carnaval, é mais facilmente trabalhada por ser leve e consistente. Os poucos artesãos vão entalhando a madeira com o formão, limando arestas e amaciando-a com a lixa, até adquirir a feição desejada. O trabalho demora uma semana e o preço, algumas centenas de euros. São belíssimas, representam demónios, personagens
bizarras de narizes compridos a lembrar falos, deuses Báquicos de frutos e
serpentes esculpidas na face de madeira. É muita a criatividade dos artesãos: um
etnólogo usaria os conceitos de surrealismo popular, de inconsciente coletivo, por
aí… lembram os bonecos de barro da Rosa Ramalho, aquele artesanato de Barcelos
que se tornou famoso pelas mãos de pessoas analfabetas, tão forte de significado.
Julgo que as máscaras de Lazarim representam
algo idêntico, muda apenas o material com que se manifesta: dão azo a
superstições, medos, fantasias religiosas e pagãs, escondidas no subconsciente. Os
caretos não falam, emitem por vezes uns grunhidos, de maneira a não serem
identificados. Podem ser homens ou mulheres e são muitas as surpresas quando certo
careto, que parecia ser homem era afinal uma mulher, e vice-versa.
Os caretos deambulam pelas ruas
apinhadas de turistas, que fotografam tudo. A chuva não demove ninguém, a mim dá-me a
sensação ainda mais forte de carnaval genuíno, por ser inverno e porque os
fatos cobrem totalmente o corpo dos figurantes. São feitos de vários materiais,
com folhas de árvores, palha, tecidos grossos e coloridos.
Duas jovens bonitas trazem o
compadre e a comadre, dois bonecos que vão ser queimados. Antes, leem o Testamento,
“a Herança do Burro”. Ouvi várias referências aos “burros” da terra, ditos jocosos e outros nem tanto, mais grosseiros
e sem medir as palavras: paneleiros, malcheirosos,
impotentes, merdosos, deformados sexuais, coninhas, etc. Afinal o Carnaval deve
ter sido um período de catarse, licenciosidade e diversão, onde tudo era permitido.
Depois é a vez do compadre falar das
mulheres da terra e volta a ser outra catadupa de obscenidades.
O Sr. Albino, um dos artesãos de máscaras de Lazarim |
Caretos Amarelos em protesto |
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