Estátua de Viana |
Viana do Castelo – Porto (regresso no comboio regional)
O bilhete de 2 € é válido nos Museus do Traje e das Artes Decorativas.
O traje de Vianesa ou de lavradeira surgiu em meados do
século XIX e foi usado até ao início do séc. XX. Está associado à economia de autossuficiência
agrícola – a rapariga que geralmente cultivava o linho e criava ovelhas que
davam a lã, era quem fiava, tecia e tingia o seu próprio fato, decorando-o mais
tarde com bordados.
O traje de noiva era preto por ser uma cor mais cerimoniosa.
Decorado com lantejoulas, missangas em ouro, que iam sendo acrescentadas ao
longo dos anos, e vidrilhos - ficava resplandecente. O ouro transportado pelas
jovens refletia a hierarquia social e traduzia a prosperidade económica da família,
tornando o dote da noiva mais apetecível.
Traje de Vianesa do início do Séc. XX. A imagem foi retirada daqui (Clicar) |
A história e as tradições de Viana estão muito ligadas ao
ouro, contudo as peças são fabricadas mais a sul, em Gondomar. As populações
locais tinham tradições e superstições: uma delas era mergulhar o bebé com uma
libra na mão, se a deixasse cair seria desafortunado, segurando-a a
prosperidade estaria assegurada.
No cofre estão expostas várias peças em ouro: custódias de
pendurar no pescoço que lembram relicários das igrejas, anéis, “borboletas”.
As freguesias do concelho têm cores ou rendilhados que as identificam
nos trajes de festa: a Areosa tem saia vermelha, Afife Azul, o Cabeço e Santa
Marta têm aventais com motivos florais. A mais famosa romaria de Viana do
Castelo é a Senhora D`Agonia que este ano vai decorrer entre os dias 17 e 20 de Agosto. A
programação dos eventos está aqui.
Escrevi no livro de visitas: “Viana do Castelo não seria a
mesma coisa sem os seus coloridos e elegantes trajes tradicionais.”
No museu municipal está exposto um
quadro em aguarela sobre papel, de autor anónimo do séc. XIX, que representa um
local de Viana junto ao rio, com barcos à vela, provavelmente um cais, e um jardim
com damas e cavalheiros a passear elegantemente. Nas proximidades, um carro de
bois e crianças a brincar descalças. O chapéu de coco dos cavalheiros e a
coluna no passeio a lembrar a coluna de Nelson em Trafalgar Square deixaram-me
dúvidas.
- Sim, é Viana do Castelo no séc.
XIX. É uma imagem um pouco romantizada porque os senhores finos aqui
representados supostamente não deviam andar a passear neste sítio, as mulheres
do povo iam encher as bilhas no chafariz e muita água caia na terra enlameando
tudo. A coluna lá atrás é a estátua de Mercúrio que foi transposta para o largo
José Pedro. – Disse-me a guia, Mafalda.
Outro quadro do século XVI, de pintor
anónimo: “A Adoração dos Reis Magos”, impressionou-me pelas cores muito vivas.
Parece um postal de Natal.
- Trata-se de uma corrente mais
ingénua, naïve, da época renascentista.
Também apreciei particularmente a escrivaninha
do séc. XIX com pinturas muito coloridas na frente dos gavetões, se bem que num
museu com tantas peças valiosas, impressionantes e antigas se torne injusto
realçar apenas estas. É o museu visto pelos olhos de um amador, nada mais.
Pareceu-me que os castiçais
antropomórficos de pretos, do século XIX, os representam com feições de cão ou de
macaco. É apenas uma suposição, não esclareci a dúvida com a guia.
Deambulei pelas ruas de Viana. Vi
vários restaurantes. É sempre difícil escolher um numa terra que não
conhecemos. A maioria tinha a ementa na porta, alguns mais caros e requintados.
Fiz um desvio pela rua do Anjinho e entrei no restaurante O Grelhador. Fiquei
contente por encontrar este restaurante - pequeno, aconchegado, asseado e despretensioso.
Decoração sóbria com motivos tradicionais: três lenços e o brasão de Viana emoldurado
pendurados nas paredes, a cabeça de um gigantone pousada no armário da louça,
um quadro da praça da Rainha, atual praça da República, cujo original se
encontra no museu municipal. Clientes de todas as idades.
Paguei 6, 5€ pelo prato do dia que
incluiu entradas de pão e broa, sopa, robalinho grelhado, bebida, café e
sobremesa. Comida saborosa e empregados solícitos.
Regressei ao Porto no comboio
regional da linha do Minho das 15:08: 7,
95€ o bilhete em 2ª classe. Mesmo em viagem e fora de casa sou constantemente
assediado. Uma pedinte Romena pede-me esmola, digo que não tenho. Ela insiste: “O
Sr. Comprou bilhete, deve ter troco e dinheiro”, mostra-me algumas moedas para
ser mais persuasiva. Fico com a impressão que me vai continuar a chatear
enquanto não lhe der alguma coisa. Dou-lhe esmola mais para a despachar –
estava a interromper a minha leitura, do que por comiseração.
No comboio recebo uma chamada da
NOS a propor um pacote - 5 minutos de conversa com algumas interrupções e sem
decidir nada, apenas com a garantia de que voltarei a ser contactado.
Estou de regresso a casa, à minha
ilha, onde Penélope e Telémaco esperam por mim. Noutra altura, com ou sem eles, regressarei ao caminho e encontrarei Lestrogónios, Poseidons, cidades e povos sabedores e aprenderei com eles.
A estátua de Frei Bartolomeu dos Mártires no largo de São Domingos |
Praça da República |
Sé |
Museu do Traje |
A estátua de Mercúrio, largo José Pedro |
O largo de São Domingos e o Museu Municipal |
Passeio das Mordomias da Romaria |
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