domingo, 21 de maio de 2023

Festa de Santa Rita

 


Apreciar o que fica perto. Alguém disse que a maior viagem é dentro de cada um. Não é necessário viajar fisicamente para longe. A solução está dentro de nós.

É politicamente incorreto dizer isto: ao pé de casa podemos encontrar motivos de interesse: nas pessoas, nos sítios, nas paisagens, na história, nos detalhes arquitetónicos. Basta estar atento, ir com calma,  com espírito e predisposição.

Encontrei vistas interessantes, descobri um “caminho secreto”. Vi aspetos do passado que lentamente vão desaparecendo, ruindo com as casas devolutas que os sustentam. Serviram para algo – tiveram a sua utilidade. 

Que vidas por aqui passaram? Que momentos, que profissões, que pessoas aqui estiveram?

RMR falava de anjos nos seus poemas, das casas habitadas por memórias, de paredes e quartos silenciosos.

Hoje, domingo, encontrei ruas de paralelos, silenciosas, como antigamente. Onde o tempo passou sem dar conta.

Naturezas-mortas.

Sombras de carvalhos e castanheiros perdidos nas bermas medrando timidamente. Pedras emanando calor. 

Fui caminhando com o intuito de chegar à festa de Santa Rita – a tempo de ver a procissão. Ao longe ouvia a missa, a voz do padre, os cânticos, a Avé Maria e o Pai Nosso, pelos altifalantes da capela que difundiam o som, como um eco.

Retardo o tempo. Não quero chegar cedo e encontrar muita gente.

Os bombeiros aguardam na sombra dos carvalhos o momento oportuno para detonar os foguetes. 

Revelou-se interessante:  estar no meio das pessoas, de sapatilhas e calções, de roupa desportiva, velha e coçada. Afinal, apesar da religiosidade, e suposta formalidade do momento, não era o único a vestir descontraído.

A procissão passou por mim. O desfile dos andores com os santos, as crianças à frente de cada um deles. Santa Rita no último, o mais florido de todos. 

Nossa Senhora de Fátima
 São Gonçalo

Santa Luzia

São Domingos

São José

Santa Rita




O padre da freguesia, o presidente da junta.

A tuna orfeão tocando  “Marcha mística”.

Temos  motivos de  interesse. Pode-se revisitar o passado, encontrar amigos, família:

- deixa-me dar aqui dois beijinhos às minhas primas. Tudo bem com vocês?

Conversamos. Dão-me notícias fresquinhas dos primos e dos tios.

As barraquinhas, os divertimentos, algumas centenas de pessoas. O palco enorme, ocupando a extremidade oposta do largo de Santa Rita.

É tudo um negócio. Vão a casa das pessoas fazer o peditório. A Comissão de Festas paga aos  músicos convidados e as despesas organizativas, recebe, em contrapartida, as rendas das barraquinhas de comes-e-bebes, dos vendedores de rua, dos tascos e da publicidade nos cartazes com os patrocinadores, maioritariamente cafés da terra, lojas e o stand de automóveis.

Regresso a casa com outras pessoas que se  dirigem para os carros nas bermas das estradas circundantes.

Novamente por ruas silenciosas. 




Encontrei um "caminho secreto"









Chama-se Aldraba,  AL-DRA-BA,
ou Batente.






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