Apreciar o que fica perto. Alguém
disse que a maior viagem é dentro de cada um. Não é necessário viajar fisicamente
para longe. A solução está dentro de nós.
É politicamente incorreto dizer
isto: ao pé de casa podemos encontrar motivos de interesse: nas pessoas, nos
sítios, nas paisagens, na história, nos detalhes arquitetónicos. Basta estar
atento, ir com calma, com espírito e predisposição.
Encontrei vistas interessantes, descobri um “caminho secreto”. Vi aspetos do passado que lentamente vão desaparecendo, ruindo com as casas devolutas que os sustentam. Serviram para algo – tiveram a sua utilidade.
Que vidas por aqui passaram? Que momentos, que profissões, que pessoas aqui estiveram?
RMR falava de anjos nos seus
poemas, das casas habitadas por memórias, de paredes e quartos silenciosos.
Hoje, domingo, encontrei ruas de paralelos, silenciosas, como antigamente. Onde o tempo passou sem
dar conta.
Naturezas-mortas.
Sombras de carvalhos e castanheiros perdidos nas bermas medrando timidamente. Pedras emanando calor.
Fui caminhando com o intuito de
chegar à festa de Santa Rita – a tempo de ver a procissão. Ao longe ouvia a
missa, a voz do padre, os cânticos, a Avé Maria e o Pai Nosso, pelos altifalantes
da capela que difundiam o som, como um eco.
Retardo o tempo. Não
quero chegar cedo e encontrar muita gente.
Os bombeiros aguardam na sombra dos carvalhos o momento oportuno para detonar os foguetes.
Revelou-se interessante: estar no meio das pessoas,
de sapatilhas e calções, de roupa desportiva, velha e coçada. Afinal, apesar da
religiosidade, e suposta formalidade do momento, não era o único a vestir descontraído.
A procissão passou por mim. O desfile dos
andores com os santos, as crianças à frente de cada um deles. Santa Rita no último, o mais florido de todos.
Nossa Senhora de Fátima |
São Gonçalo |
Santa Luzia |
São Domingos |
São José |
Santa Rita |
O padre da freguesia, o
presidente da junta.
A tuna orfeão tocando “Marcha mística”.
Temos motivos de interesse. Pode-se revisitar o passado, encontrar amigos, família:
- deixa-me dar aqui dois
beijinhos às minhas primas. Tudo bem com vocês?
Conversamos. Dão-me
As barraquinhas, os
divertimentos, algumas centenas de pessoas. O palco enorme, ocupando a
extremidade oposta do largo de Santa Rita.
É tudo um negócio. Vão a casa das pessoas fazer o peditório. A Comissão de Festas paga aos músicos convidados e as despesas organizativas, recebe, em contrapartida, as rendas das barraquinhas de comes-e-bebes, dos vendedores de rua, dos tascos e da publicidade nos cartazes com os patrocinadores, maioritariamente cafés da terra, lojas e o stand de automóveis.
Regresso a casa com outras pessoas que se dirigem para os carros nas bermas das estradas circundantes.
Novamente por ruas silenciosas.
Encontrei um "caminho secreto" |
Chama-se Aldraba, AL-DRA-BA, ou Batente. |
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