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O rio Sousa na Nossa Senhora do Salto |
Estamos a apenas 20 km do centro do Porto e, no entanto, é
como se estivéssemos bem mais longe. O troço de Alvre é mais aberto, os
eucaliptos desapareceram. As encostas da serra de Santa Iria têm o solo seco, propício
aos matagais, onde crescem as urzes, o tojo, a carqueja, a giesta. Os sobreiros
estão-se a expandir. Cercamos um medronheiro frondoso repleto de frutos
amarelos e vermelhos, redondinhos como bolas de ping-pong. Apanhamos e comemos
os dos ramos mais baixos.
Alvre pertence à freguesia de Aguiar do Sousa, concelho de Paredes.
São bem visíveis ainda os vestígios rurais: ramadas de uvas americanas, campos
cultivados em socalco, quintais, quintas
e casas de xisto. Mas são poucos os que realmente se dedicam à agricultura: uma idosa corta erva com a foice, as ovelhas
pastam à sua volta. Dali a pouco ela passará por nós na estrada de paralelos levando-as
para o curral. Os restantes habitantes devem trabalhar nos serviços e alguns no
porto. A CREP passa mesmo ao lado e dali segue-se para qualquer sítio. Por
enquanto, esta proximidade viária não se nota na procura de casas e em novos
moradores. O lugar continua pacato, o silêncio é interrompido pelo ruído das moto
quatro que percorrem a serra aos fins-de-semana.
A caminhada começou na Nossa Senhora do Salto. O local é bonito, as falésias são abruptas, caem a pique. Conta a lenda que um cavaleiro gritou: “Valha-me Nossa Senhora!”, enquanto se despenhava no precipício. Esta fez o milagre de o pousar como uma pena no chão. O rio Sousa forma aqui um
canyon de águas rápidas e agitadas, correndo impetuoso, atravessando a garganta
estreita que escavou na rocha dura. Uma das colegas diz que foi no rio
Sousa que aprendeu a nadar. Imagino que atualmente ninguém nade nele, a água
está poluída. Há um cheiro ligeiramente desagradável no ar.
A 3.ª sessão da formação “Aprender no Campo” terminou com um convívio pic-nic na margem do rio, iluminado pela lua quase cheia. A Glória, professora de Geografia, veio de Guimarães. Trouxe uma broa caseira: “a broa de Guimarães”, como rapidamente se tornou conhecida, que todos quiserem provar e elogiaram. O José Fernandes levou um vinho do Porto “Velhotes” – uma aposta certa – que ajudou a aquecer a noite fria. A Dra. Raquel Viterbo, Diretora Executiva do Parque das Serras do Porto,
fala dos projetos e do modelo de
gestão dinâmica em que participam diversas entidades e parceiros, atuando ao nível da
conservação, recuperação do património histórico e ambiental. “Há muitos eucaliptos,
é verdade, mas não podemos cruzar os
braços. Continua a haver muito património e biodiversidade para defender e valorizar.”
Oferece - nos um pacote com todos os guias da rede de percursos pedestres
das serras do Porto e um chapéu do parque. Todos os percursos de Paredes
começam na Senhora do Salto. Cada concelho criou os seus próprios trilhos,
que se cruzam e ligam entre si. Foi criado um
percurso de grande rota com 108 km de comprimento. Ao todo 18 percursos. Há muito para explorar e descobrir nas
serras ao pé do Porto.
Tivemos a companhia de um podengo esfomeado que ora ia à
nossa frente, farejando, vasculhando os muros e as árvores, ora voltava atrás verificando
se não faltava ninguém.
Provavelmente foi abandonado. Novito, dócil, mas
desconfiado, nunca se aproximou em demasia, talvez traumatizado pelo abandono e
maus tratos recentes. Não entrou em Alvre. Quando iniciamos o regresso à Senhora
do Salto, lá estava ele à saída da aldeia, à nossa espera. A companhia que nos fez
foi recompensada com as fatias de chouriço, os restos de empadão de atum e de folhado
de carne que lhe fomos atirando para o chão. Arrefeceu muito ao início da noite.
Ele colocou o rabito entre as pernas, fazendo
com que as suas costelas no corpo esquálido se notassem mais. Por fim, desapareceu
algures na escuridão, procurando um abrigo onde se pudesse proteger do frio, menos
esfomeado do que habitualmente.
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As marmitas de gigante, fenómeno geológico. |
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Madressilva |
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Outro troço do Rio Sousa. É evidente o problema da eutrofização. |
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A ribeira de Santa Comba, entre a Nossa Senhora do Salto e Alvre. Desagua no rio Sousa. Ao contrário deste, tem águas límpidas e transparentes. |
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Medronhos |
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Sobreiro à entrada de Alvre |
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Campo agrícola em Alvre. Vê-se ao longe o viaduto da CREP sobre o rio Sousa. |
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Entrada em Alvre |
Ambiente totalmente diferente a 20 km do centro do Porto:
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O rio Sousa em Alvre |
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O nosso companheiro especial, pouco antes de desaparecer na escuridão. |
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