Por Greg Hume - Obra do próprio, CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=15057912 |
Os bonobos pertencem ao grupo dos
grandes símios, a par dos chimpanzés, gorilas e orangotangos. São os
menos numerosos, apenas 20 000 em estado selvagem, os que tem o habitat
mais circunscrito (recantos remotos da
floresta tropical da República Democrática do Congo), os mais vulneráveis e os que correm maior risco de
extinção.
É quase impossível observá-los em
estado selvagem. No documentário: “Os grandes símios do planeta”, produzido
pelo canal alemão NDR, o melhor que o repórter conseguiu, ao fim de alguns
dias embrenhado na floresta tropical acompanhado por ex-caçadores furtivos e
uma ONG local, foi encontrar uma fêmea, morta e
mutilada, a quem roubaram a cria.
As fêmeas dão à luz uma vez em
cinco anos. É impossível retirar-lhes a cria sem a matar. Ela protegê-la-á até à morte.
Nunca foi observado em estado selvagem ou em cativeiro um bonobo a assassinar outro. Os bonobos resolvem os seus conflitos através do sexo. Fazem muito sexo, em todas as posições, com vários parceiros. Ao invés, os seus parentes e vizinhos chimpanzés são agressivos e violentos, capazes de matar e de levar a cabo guerras fratricidas, só terminando com o extermínio total de um dos grupos rivais. Também fazem sexo, claro, mas não o usam para resolver conflitos e apaziguar as tensões.
O ser humano é geneticamente idêntico aos chimpanzés e aos bonobos em 98%. Com qual dos dois se assemelha mais o seu comportamento? A evolução transformou-o num grupo de chimpanzés mais sofisticado que desenvolveu ferramentas de destruição massiva.
A invenção da agricultura no neolítico, o consequente surgimento de civilizações e de hierarquias sociais potenciaram a manifestação dos instintos mais violentos da humanidade. Thomas Klikauer estabelece um paralelismo entre os chimpanzés e o Homo sapiens - apelidando ambos de símios assassinos - e o ecocídio global, perpetrado pelos últimos, entre eles, contra as outras espécies e habitats, colocando-se a si próprios em risco de extinção.
O autor refere que há uma tendência castradora na história da humanidade, manifestando-se no fascismo, na religião e no autoritarismo. Fenómenos repressivos que exercem controlo sobre o indivíduo e as sociedades por meio da coação psicológica e, quando necessário, pela violência física e pelas perseguições, intervindo no domínio íntimo das pessoas. São conhecidas as caças às bruxas na idade média, mulheres que muitas vezes tinham a ousadia de exercer livremente a sua sexualidade. Os ditames religiosos definem o correto e o errado, condenando e punindo quem sai da norma. A conhecida “posição do missionário” não foi mais do que a tentativa de impor e considerar aceitável uma única posição para o coito. Os missionários cristãos observaram escandalizados que os nativos americanos, além de andarem nus “com as suas vergonhas a descoberto”, como descreveu Pêro Vaz de Caminha, também faziam sexo em diversas posições.
A história humana está repleta de exemplos violentos.
Pelo contrário, o bonobo representa o lado tolerante que a humanidade podia ter seguido.
A sexóloga Susan Block desejou que 2022 fosse mais bonobo e menos chimpanzé. Acabou por ser um ano terrivelmente “chimpanzé”: a Rússia invadiu a Ucrânia, em Moçambique intensificou-se o conflito de Cabo Delgado, as perspetivas de paz continuaram desoladoras em muitas comunidades e países.
O único bonobo vivo que apareceu no documentário estava preso em condições degradantes num mini-zoo no topo de um prédio de Banguecoque, vítima de comércio ilegal. Tinha cerca de 10 anos, um jovem adulto que não compreendia porque estava ali, malnutrido, olhar vago e perdido. Condenado.
Os Bonobos capturados ilegalmente na melhor das hipóteses participarão em espetáculos para diversão da assistência, vestidos como humanos, humilhados, destituídos da sua natureza.
Os grandes símios são capazes de aprender a linguagem gestual, clicar em teclados e fazer tarefas simples em computadores e telemóveis. Sofrem depressões e traumatismos psicológicos, tal como os humanos.
Um ex-caçador disse quase a chorar que quando apontava a arma para um bonobo, ele não fugia, olhava-o fixamente, começava a emitir sons tranquilos, como que a falar calmamente, perguntando-lhe por que motivo o ia matar, que mal lhe fez ele, a tentar dissuadi-lo de disparar.
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