sábado, 7 de maio de 2022

Cabedelo

 


Terminamos a formação “Aprender no Campo”. Caminhamos junto à foz do Douro, no lado de Gaia, pelas da freguesias da Afurada, “A Furada”, e Canidelo. Vimos resquícios de uma ruralidade que está a desaparecer rapidamente, substituída por uma urbanização galopante de novos empreendimentos, polémicos alguns por serem autorizados muito próximo de zonas protegidas e do leito do rio que, como se sabe, subirá com o nível do mar.    Tem sido avassalador o ritmo de construção, sempre com  mais um mamarracho que despontou na encosta e guindastes a preparar futuros empreendimentos, ocupando matos, quintas, locais com vistas espetaculares, por isso tão apetecíveis e sobrevalorizados.   

Encontramos os restantes colegas na marina. Parecia hora de ponta no início da tarde de Sábado.  Dois autocarros recolhiam turistas de um iate fluvial, idosos de sotaque americano. Ali começamos com a primeira explicação do José Fernandes, em frente de nós fica a antiga “brévia”, local de repouso dos monges da serra do Pilar. “Não se esqueçam do ano de 1834”, diz-nos, "quando foram extintas as ordens religiosas". O edifício passou para o estado, que o vendeu a um civil, "um tal de Antero", um dos primeiros em Portugal a introduzir na fachada motivos neogóticos (séc. XIX). Passamos ao lado da capela que pertenceu aos monges e subimos ao palácio de Manuel Marques Gomes. Empresário de origem desconhecida, casou no Brasil com uma mulher muito rica e mais velha, rapidamente fez fortuna, regressou a Vila Nova de Gaia e tornou-se benemérito local.  Construiu-o no séc. XIX. Após a sua morte, devido a problemas de partilhas entre os descendentes, ficou abandonado muito tempo.   Estive aqui com um grupo de amigos no aniversário de um deles.  Compramos grades de cerveja, fizemos uma fogueira no exterior e bebemos até tarde. Hoje seria impossível voltar ao palácio furtivamente como o fizemos há trinta anos. Depois disso, um fundo imobiliário comprou o terreno, vedou-o e recuperou-o. É provável que brevemente se comecem a construir vivendas ou apartamentos nos lotes, tudo indica que será um condomínio de luxo privado. A Câmara de Gaia reconheceu a filantropia do empresário, atribuindo o seu nome à toponímia local.

A rua e a ribeira do Linho, que desagua no Douro, recordam atividades do passado.   Foi um sítio rural, desvalorizado, afastado dos centros do Porto e de Gaia, de povoamento disperso.   As póvoas piscatórias da Afurada e da Aguda eram pouco relevantes. Espinho estava mais afastado e foi, durante muitos séculos, um simples areal com cabanas de pescadores, que começou a crescer com a construção da linha de comboio. Com o advento do automóvel o local foi-se tornando gradualmente mais apelativo, a proximidade do mar, as vistas soberbas e o investimento imobiliário fizeram o resto.

Seguimos pela rua da Bélgica até ao edifício da antiga seca do bacalhau, construído no Estado Novo (1940). O terreno envolvente, descampado e ventoso, em breve estará ocupado com mais construções, tapando as vistas umas dos outras sobre o Douro e o atlântico.

Descemos  ao Parque de São Paio pela escadaria em madeira.  Inaugurado em abril de 2021 (projetado pelo arquiteto Sidónio Pardal).  Chegamos ao observatório de aves da Reserva Natural do Estuário do Douro. Esperava-nos  o Nuno Oliveira, diretor do FAPAS, ambientalista de longa data, responsável pela criação, e o primeiro diretor do Parque Biológico de Gaia, assim como do Parque de Vinhais e desta Reserva Local -  cuja homologação só foi possível a partir de 2008, quando um Decreto_lei permitiu a criação pelos municípios de reservas naturais, sem autorização do governo central.  Tinha o binóculo montado no estrado, falou-nos da importância das zonas húmidas de sapal para proteger as aves migratórias e sedentárias “É uma zona muito frágil, ainda há pouco um indivíduo veio para aqui pescar e espantou as andorinhas-do-mar”. São as “estações de serviço” das aves, onde param para se “reabastecer” nos longos voos entre a o Norte da Europa e África. Sem zonas húmidas entrarão em declínio e desaparecerão, como infelizmente está a acontecer com muitas espécies. A construção do pontão está a contribuir para o assoreamento do sapal. Fiquei com a impressão de que o Nuno Oliveira poderia ficar indefinidamente a falar de muitos assuntos ligados à conservação da natureza, sobre as aves e as plantas autóctones e exóticas que povoam a reserva,  se houvesse mais tempo.    Tínhamos que terminar antes das 18h 00, alguns colegas queriam assistir ao Benfica-Porto. Havia um certo frisson no ar pela possível conquista de mais um campeonato já neste jogo, e assim foi. Mais tarde ouviria as buzinadelas na rua e gritos de "Bibó Pueerto!"  

Tiramos uma fotografia do grupo que será colocado na fb e na página do FAPAS, preenchemos o inquérito de satisfação e despedimo-nos até uma próxima formação.

A creche em frente  era uma brévia,  local de repouso dos monges da serra do Pilar. 


Subimos ao palácio de Manuel Marques Gomes, empresário de origem humilde,  casou no Brasil com uma mulher mais velha, rapidamente fez fortuna e  no regresso tornou-se benemérito em   Vila Nova de Gaia.  Construiu o palácio no séc. XIX,  depois    esteve  abandonado muitos anos

a proximidade do mar e as vistas soberbas fizeram o resto.

Seguimos pela rua da Bélgica até ao edifício da antiga seca do bacalhau (1940), cujos terrenos circundantes  em breve estarão ocupados com mais construções tapando as vistas umas dos outras  sobre o Douro e o atlântico.

A reserva é um local frágil, a construção do pontão na foz contribuí para o assoreamento do sapal. 

Descemos a escadaria em madeira até ao Parque de São Paio, inaugurado em abril de 2021 (projetado pelo arquiteto Sidónio Pardal)





Fiquei com a impressão que o Nuno Oliveira poderia ficar indefinidamente a falar de assuntos ligados à natureza 



Ribeira do Linho




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