domingo, 25 de agosto de 2019

Requiem por um Planeta


Um jardim que tinha tudo para dar certo. 
Não é de agora. Temos uma   história de exploração e escravidão. Não fomos os únicos, é certo. Nem começou connosco, nem vou dizer de quem é a culpa. É uma longa história que vem de trás.  Começou, talvez, com a subjugação da natureza. No entanto, julgar que os "outros" eram inferiores, sem cultura e bárbaros, deve ter contribuído. Impor outra religião, dogmas sociais e culturais,  formas únicas de pensamento, deslocar e exterminar populações, obrigá-las a trabalhar contrariadas, até à exaustão e morte, também ajudou, não tenho dúvidas.  
O chefe Seattle dizia que  partilhamos a terra, o nosso dever é protegê-la e não possuí-la. Alessandra Korap, há 519 anos que o povo indígena está em luta, mas agora é pior.
 O homem tem sido  surdo às palavras sábias dos povos da floresta e do deserto, embriagado no caminho do "sucesso", que muitos gostam de gabar: os  "valores da democracia" e da "civilização", repetidos até à exaustão. 
Um pouco mais de humildade no discurso não faria mal nenhum,  este caminho civilizacional está pejado de erros e, em vez de uma sociedade feliz, nasceu uma distopia de medo e destruição. 
Perdemos o Norte, somos enganados permanentemente e não damos conta. Fazemos parte do espetáculo e assistimos sentados, com manipulada comiseração, ao que se passa diante dos nossos olhos. Hoje choramos, assinámos uma petição e colocamos  uma bandeira no facebook pelo menino que se afogou, amanhã mostramos a nossa indignação com a destruição da floresta. Sempre devidamente formatados pelos media, que dão a informação que querem. E como verdadeiros órgãos, auto-intitulados imparciais e democráticos, têm que dar o contraditório. Coletes de forças que fazem  ruído e baralham. A nossa brilhante e superior civilização, com os seus feitos extraordinários, conseguirá salvar-nos in extremis. Temos salvadores que propõem  o nuclear para produzir energia "limpa", fabricar máquinas que absorverão o dióxido de carbono e painéis que refletirão a radiação solar. Demasiado ruído e loucura, quando  nem sequer somos capazes de evitar a perda das florestas e da biodiversidade, a redução dos gases de efeito de estufa e do consumo. 
Desconfio que nem o mais próximo calhau da Terra vamos habitar, encarregar-nos-emos de a destruir  antes disso. 
Por que motivo não temos conhecimento de outras civilizações planetárias?
Seremos assim tão privilegiados neste universo de milhares de sóis e planetas, que não surgiu mais nenhum com condições de vida idênticas à nossa? 
Ultrapassado determinado patamar de desenvolvimento material e tecnológico, o planeta começa a consumir recursos numa quantidade superior aquela que consegue regenerar e a produzir resíduos incapaz de  assimilar, entrando numa espiral de auto-destruição. 
É muito grande a probabilidade da existência de vida e de formas inteligentes noutros planetas do universo,  contudo nunca foram capazes de se dar a conhecer porque o seu planeta, tecnologicamente complexo, colapsou antes disso. 
Terão tentado alguns dos seus habitantes alertar-nos para o fim desastroso que nos espera, se não alterarmos o rumo?  Seres bondosos que nos visitaram numa nave e ficaram aprisionados algures em segredo. ET's de cara estranha e medonha, cheios de compaixão por nós.
 Haverão mensagens descodificadas  secretas que anunciam algo terrível para acontecer?
A locomotiva Terra está cada vez mais descontrolada, a acelerar em direção ao precipício. Não a conseguimos abrandar, ela acelera descontroladamente. Entre  os gritos de alguns passageiros, há uma minoria que segue na primeira classe, espaçosa e de luxo. Os outros, vão de pé, aos encontrões, sentem os solavancos  cada vez mais fortes e as curvas apertadas, em direção ao abismo. Caem e há passageiros no chão, que jamais se levantarão. 
Quanto mais próximos maior o ruído, a cegueira e a distração. Provavelmente, nem darão conta que chegaram ao fim, de tão drogados  com comprimidos, futebol, política e comunicação. Entretenimento massivo, oferecido em primeira mão.
E não  esqueçamos os diretos e as tragédias de última hora, as  promessas e os discursos bem intencionados, em horário nobre, oferecidos pelos oráculos e novos sacerdotes. 
A realidade é que os incendiários continuam a ser, às escondidas, por eles bem estimados, por golpes de estado não denunciados e acordos de comércio livre celebrados. 
Filosoficamente falando, se o objetivo da humanidade é alcançar um estádio de desenvolvimento espiritual avançado,  auto conhecimento e paz, parece cada vez mais óbvio que não passa de um grupo de vorazes símios, comprazidos a brincar com os seus gadgets auto destrutivos. 
Observando tudo isto, como sobreviver sem enlouquecer?  Encontrar sentido, sabendo que todos os gestos, comportamentos e opções têm implicações. 
Se fosse corajoso e louco o suficiente, diria simplesmente: parar tudo, imediatamente.

























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