Sean Keller, no artigo intitulado “Connecting
the Dots: Insane Trade and Climate Chaos” propõe-nos imaginar:
Um mundo onde a comida é enviada para processamento a
milhares de quilómetros de distância da sua origem, regressando depois ao ponto de partida para ser vendida.
Vacas no México alimentadas com milho importado dos Estados
Unidos, que depois são exportadas para os Estados Unidos, onde são
mortas, e a respetiva carne reenviada para o México.
Um mundo em que a China, desde 2005, consegue importar mais
bens de si própria do que dos Estados Unidos, o seu principal parceiro
comercial.
Parece loucura, mas é o que na realidade acontece.
Os exemplos anteriores são situações de REIMPORTAÇÃO: os
países enviam os seus produtos para o estrangeiro, recebem-nos processados e reenviam-nos novamente, numa fase mais adiantada da cadeia de
produção.
O autor apresenta outros exemplos:
A migração que o
bacalhau faz até às costas da
Noruega, depois de uma viagem de milhares de quilómetros pelas águas geladas do
ártico, em busca de locais para desovar, não se compara com a viagem que faz depois de ser pescado:
é enviado para a China, transformado em lombos e filetes, e reenviado para os supermercados da
Escandinávia, onde é vendido.
Mais de metade do marisco apanhado no Alasca é processado na
China e a maior parte dele regressa aos supermercados dos Estados Unidos.
Este COMÉRCIO REDUNDANTE não tem qualquer lógica e só pode
causar perplexidade:
por que motivo então
insiste-se em continuar a realizá-lo,
enviando comida em boas condições para o estrangeiro para mais tarde recebê-la
de volta?
A resposta está no modo como a economia global está
estruturada e nos acordos de “Comércio
Livre”, que permitem às corporações transnacionais aceder a mão-de-obra e recursos em praticamente qualquer lugar do
planeta, permitindo-lhes aproveitar as brechas fiscais e as diferenças nos
padrões de trabalho e ambientais dos diferentes países.
Enquanto isso, os subsídios
diretos e indiretos aos combustíveis fósseis, da ordem das centenas de milhões
de euros anuais, permitem que os custos de transporte sejam em grande parte
suportados pelos contribuintes e pelo meio ambiente, em vez das empresas que
realmente participam neste comércio.
Estas forças estruturais produzem níveis insanos de
transporte internacional, cujo único objetivo é aumentar os lucros das
empresas.
As consequências são terríveis e deverão piorar nas próximas
décadas, particularmente para os
pequenos agricultores do sul global, que viram os seus meios de subsistência
prejudicados pelo influxo de alimentos baratos do exterior. Enquanto isso, as
suas práticas agrícolas, resilientes ao clima, são ativamente desencorajadas pelos acordos da
Organização Mundial de Comércio e de
"Comércio Livre".
A comida não é o único exemplo que acumula quilómetros
desnecessários de viagem, Sean keller
exemplifica com os componentes dos smartphones, que viajam na totalidade cerca de 800 000 quilómetros, antes de
chegarem aos nossos bolsos.
O transporte excessivo e redundante de produtos é
responsável pela emissão significativa
de gases com efeito de estufa. Logo, não se pode combater a crise climática sem alterar a forma como o comércio internacional
é realizado.
Um
estudo apresentado por uma universidade Japonesa descobriu que quando os
países reduzem as suas tarifas, as emissões de carbono aumentam.
O artigo conclui que para lutar contra as alterações
climáticas é necessário acabar com o “Comércio Livre” e os subsídios aos
combustíveis fósseis, que tornam o comércio redundante e as reimportações
lucrativas para as grandes corporações, prejudicando as comunidades locais e a resiliência
ambiental.
O autor remete para o sitio da organização Local
Futures – Economics of Hapiness, em
que se acede a um PDF com dados relativos ao comércio louco e ver um curto filme - uma colagem com
bastante humor de clássicos do cinema - alertando
para suas consequências.
Uma personagem desesperada
promete: “From now on I will only buy local food”.
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