domingo, 23 de junho de 2019

Lítio em Portugal


Cientistas surpreenderam-se com o derretimento – 70 anos mais cedo – do permafrost Canadiano. A notícia da agência Reuters referiu que este é o último sinal de que o aquecimento global está o ocorrer de forma mais acelerada do que os cientistas previam e receavam.  As temperaturas mais altas devastarão o sul global e ameaçarão a viabilidade da civilização industrial no hemisfério norte, reforçando a necessidade urgente de reduzir as emissões dos gases com efeito de estufa.
“O derretimento do permafrost é um ponto de mudança da crise climática e está a acontecer mesmo à frente dos nossos olhos. O derretimento prematuro é um  sinal claro que temos que descarbonizar a economia, imediatamente.”, disse Jennifer Morgan, Diretora Executiva do Greenpeace International.
O  derretimento da camada de gelo permanente da tundra Canadiana também é notícia na revista Visão. 
De acordo com Ted Glick, além desta terrível situação  que a humanidade enfrenta, há dois  outros   aspetos, interligados entre si,  a ocorrer  neste momento e que serão pontos de mudança,  muito relevantes para o planeta: o tecnológico e o político.
Já existe tecnologia adequada para rapidamente transformar a economia e produzir energia a partir de fontes renováveis, a preços acessíveis: painéis solares, turbinas eólicas, veículos elétricos e outros.   É necessário mobilizar a sociedade,   como aconteceu na segunda guerra mundial, em que rapidamente  a economia e a sociedade  agiram em torno de um objetivo comum, destruir os nazis e vencer a guerra. A guerra agora é outra - contra as alterações climáticas -  mas exige igualmente uma intervenção pronta e urgente das nações.
Nos Estados Unidos ocorrem  eventos e campanhas,  como  “The Poor Peoples Campaign”,     manifestações dessa desejada transformação social e ambiental.
O  Green New Deal  é um plano para políticas mais sustentáveis e favoráveis à descarbonização.   Assunto importante no seio do partido  Democrata,   ganhou voz com a congressista de Nova Iorque  Alessandra Ocasio-Cortez.   Propõe a conversão da economia baseada na exploração dos combustíveis fósseis para as energias renováveis, com a criação simultânea de milhões de empregos "verdes".  Inspira-se na política de choque do presidente Franklin D.  Roosevelt, que tirou milhões de Americanos da Miséria, após a grande depressão, o New Deal.
Glick propõe para os próximos dois anos,  no contexto Estado Unidense,  movimentos multiculturais de base nacional, o voto maciço no dia 3 de novembro de 2020 (eleições presidenciais) de pessoas de cor, jovens e progressistas contra Donald Trump; desobediência civil não violenta. Só desta forma haverá hipótese de evitar o colapso ambiental e legar àqueles que virão depois um mundo baseado na justiça e no amor, no qual vale a pena viver e lutar.
Em Portugal, o discurso ambiental entra em força no discurso político, ontem em Faro o tema da convenção do partido socialista foram as alterações climáticas: será um mero oportunismo ou serão verdadeiramente genuínas as intenções? O PAN obteve uma votação inédita  para o parlamento europeu,  elegendo um deputado,  e é o único partido a subir nas sondagens depois das eleições europeias.
Quanto às políticas ambientais do Partido Socialista,  foi muita positiva, talvez a melhor medida ambiental tomada em Portugal nos últimos anos, a iniciativa do passe único nas regiões metropolitanas de Lisboa e Porto. Registando-se um aumento significativo do número de passageiros no primeiro mês: 26% em Lisboa, 16% no Porto. Contudo, a medida não poderá  servir para esconder outras: a exploração de lítio nas serras de Portugal, mobilizando autarquias e populações locais contra. Nem o argumento da aposta nas energias renováveis pode servir: o lítio é usado nas baterias dos carros elétricos. A exploração de lítio implicará o desnudamento de muitas  serras do interior – mais de 400 hectares só na serra da Argemela, concelho de Castelo Branco – a destruição da maior de todas as riquezas, a biodiversidade, a deslocação de populações e a destruição de condições ambientais únicas e aprazíveis das muitas localidades afetadas do  Alto Minho à Beira Baixa.  
A mudança de rumo económico e de política,  em nome do combate às alterações climáticas, não pode servir de argumento para continuar a destruir a natureza: seja um Green New Deal nos Estados Unidos, baseado num investimento maciço nas energias renováveis, seja numa transição para veículos elétricos com baterias de lítio.

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