Na carruagem de metro um
indigente vai assediando os passageiros: “meus senhores e minhas senhoras eu
sei que é desagradável, mas se me permitem a vossa compreensão e ajuda…”. Os
passageiros mantem-se reservados, ignorando-o. Estou de costas, ouço-o apenas e
torço para que não me venha chatear.
Num sítio mais escondido, debaixo das escadas de acesso à linha, um colchão coberto por mantas andrajosas. Numa outra estação, um fulano
miserável de pés descalços e encardidos agacha-se debaixo do ar condicionado.
Nos Campos Elísios casais de
pedintes e filhos sentados no passeio tapam as pernas com cobertores, dando a
sensação que dormem e fazem casa na rua, enquanto na Louis Vuitton estão
dois Lamborghinis estacionados à porta e faz-se fila para entrar na loja: 14 000 € euros o preço de umas botas na montra.
Mudança de linha: um cigano romeno
com acordeão ao pescoço indica-nos a plataforma para Versailles, sem
perguntarmos nada. Depois diz que a pista está “too short”, para avançarmos
mais para a frente, uma série de pessoas seguem-no. O comboio chega, passa por
nós e para mais à frente, temos que correr para o apanhar. O homem tinha razão.
Toca acordeão e pede esmola nas
carruagens. O turista à minha frente faz-lhe um sorriso amarelo e não dá
esmola, eu também não.
Buffet a 37€ por pessoa, sem
bebida. Gelados a 4€. Entrada de adulto na Disney a 90 €. Exército na rua e nos
monumentos. Sacos e bagagens revistados várias vezes. Máquinas de raio-x.
Vigilância apertada por motivos de segurança. Muita atenção aos sacos e malas:
denunciar qualquer objeto abandonado e nunca nos esquecermos dos nossos.
Recorda-se a guerra
Franco-Prussiana de 1870-71 numa exposição em Les Invalides. Um cartaz com uma
fotografia da época: o arco do triunfo e a alameda com casas arruinadas e bombardeadas.
Junto ao Hôtel de ville uma lápide relembra os 20 a 30 000 fuzilados na
semana sangrenta. A comuna de Paris e a Guerra Franco-Prussiana. O Sacre Coeur
foi construído em 1873, a exposição universal de Paris e a construção da torre
Eiffell em 1877. Não encontro qualquer explicação nos guias turísticos sobre alguma possível relação entre estes eventos.
Rimbaud descalço dirige-se para a
linha da frente no Marne. Ouço Debussy: Clair de Lune. Faltam as Gimnopedies de
Satie.
Mas Paris é deslumbrante, sem
exagero. Grandioso. Opulento. Monumental. As filas imensas de turistas saturam,
demasiados em todo o lado. Filas intermináveis no Louvre e na Torre Eiffell.
Versailles: Cidade aristocrática,
ordenada e limpa. Vejo chefes de estado e generais franceses de caqui e bigodes
compridos a assinar tratados em fotografias e filmes mudos a preto e branco, no
fim da 1º guerra mundial. Num quadro famoso da época o Kaiser Guilherme I é entronizado imperador
alemão, com Bismarck, paternalista, a assistir. Os Franceses não podiam ter escolhido local mais adequado para humilhar a Alemanha, quarenta e oito anos depois da derrota na guerra Franco-Prussiana.
Mais uma fila interminável para
entrar no palácio. É mais interessante caminhar pelos jardins, não se paga e
não se perde tempo. Bicicletas e
carrinhos de duas pessoas para alugar, seria uma boa ideia não fosse tão
exorbitante o preço.
Barcos a remos com casalinhos e
famílias deambulam no canal. Picnics nas margens ensombradas por bétulas, onde
me sento e descanso, como na canção.
Petit e Grand Trianom: Vale a
pena, sem as filas do palácio de Versailles, onde Maria Antonieta se refugiava
do fausto e cansaço da corte. Os jardins são belíssimos, bucólicos, sossegados,
por momentos sem turistas, como se estivesse num bosque bem cuidado. Local que
pretendia ser paradisíaco e deve ter sido. A rainha teve um fim nada
condizente, violento e tremendo, como se sabe.
Petit Trianom |
Grand Trianom |
Na RTP2 passa a série Versailles,
má, a não ser pelos figurinos e pela bolinha vermelha no canto superior direito.
Luís XIV e as suas amantes, as intrigas da corte, os soldados que regressam da
guerra na Flandres contra os Espanhóis para a construção do palácio e se
revoltam com as condições miseráveis de trabalho, ao que o Rei responde com Les Invalides para lhes dar assistência.
Os bosques infestados de salteadores, reforçados com a presença da tropa real,
a nobreza mais tradicional que se opões às reformas reais.
Templo do Amor |
A Quinta |
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