sábado, 23 de março de 2013

Caminho Português de Santiago do interior (Almargem - Ribolhos)

2º Dia: Almargem- Cabrum- Vila Meã – Mões – Vila Boa – Grijó – Ribolhos (23.6Km)



Uma chuva diluviana abate-se de noite sobre o albergue. Durmo mal e acordo regularmente com o barulho da chuva e com o ressonar do vasco que dorme no saco cama ao lado.

“Como estará o terreno com toda a chuva que tem caído?”

Os meus companheiros também acordam com o barulho da chuva. Natália está meia constipada e queixa-se que é a segunda noite que passa sem dormir.

O terreno provavelmente estará todo enlameado.

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O percurso segue pela serra de Montemuro entre tufos de carqueja, queiró e pinheiros.

Existem subidas com algum declive, longas e desgastantes. Nos pontos altos da serra desfruta-se de uma vista maravilhosa.

A paisagem é deslumbrante.

As pessoas com quem nos vamos cruzando parecem fechadas, mas depois de uma abordagem inicial gostam de conversar. O Vasco tem revelado um talento especial para as pôr à vontade e meter-se com elas.

Desde que ontem me juntei ao Vasco e à Natália que temos andado sempre juntos. Três solitários peregrinos no caminho Português de Santiago do interior.

Há muita cumplicidade entre estes dois amigos. Conhecem-se bem e fico contente por partilhar estes episódios com eles.

O Vasco tem idade para ser meu pai. Foi forcado, ator, duplo de cinema, maratonista, mágico. Um homem com uma vida rica de experiências e com muita energia e atitude positiva.

A Natália é idealista, sonhadora, simpática e muito bonita.

O caminho está repleto de surpresas. Encontramos uma aldeia sem eletricidade e água canalizada, habitada por hippies modernos. Pessoal urbano que decidiu abandonar a vida desgastante e sem sentido e procurar um refúgio e um sentido de vida no meio da serra e no contacto com a natureza. Parecem felizes e saúdam-nos de sorriso aberto.

São uma comunidade formada por alguns casais jovens e crianças. Um miúdo anda feliz de bicicleta pelo trilho que atravessa a aldeia. Mete-se connosco e tem uma curiosidade tremenda. Faz perguntas que só uma criança de 10 anos consegue fazer e simpatizamos imediatamente com ele.

Surge um grupo de BTTistas que vai para Santiago. Ficamos conversar com eles enquanto os hippies passam atarefados por nós.

Depois da aldeia surge a ribeira de Cabrum que separa os concelhos de Viseu e de Castro Daire. Para a atravessar é necessário tirar as sapatilhas e as meias.

Mões surpreende pela beleza e arquitetura tradicional. Foi sede de concelho, tem pelourinho, comércio, lojas, multibanco e restaurantes. Uma raridade encontrar tantos serviços numa vila que nem sequer é sede de concelho. Pertence a Castro Daire.



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Às 6 da tarde telefonamos para o albergue de Ribolhos. Após descrevermos o local onde nos encontramos, julgando que estamos muito próximos, respondem-nos que ainda faltam 6 Km.

É um balde de água fria. A Natália queixa-se de dores no corpo, está mal disposta, caminha muito devagar e o Vasco tem que acompanhá-la.

Começo a ficar nervoso porque ao ritmo que vamos não será possível chegar de dia ao albergue.

Sugiro ficarmos por Mões e chamar um táxi para nos levar ao Albergue.

- Não! O caminho tem que ser feito a pé – responde o Vasco.

Ando mais depressa para tentar puxar por eles. Não adianta, continuam muito devagar, cada vez mais longe. Espero. Fico impaciente. Volto a insistir.

- De certeza que não querem chamar um táxi? Falta pouco para anoitecer e de noite é uma chatice.

- Se for preciso usamos lâmpadas – responde o Vasco.

Até que a Natália diz:

- Vai sozinho à frente, quando chegares ao albergue diz como é o percurso até lá e se for preciso chamas alguém para nos vir buscar.

Assim foi. Meti o turbo e comecei a caminhar contra o tempo. Ao fim de trinta minutos de uma passada rápida chego a uma aldeia e pergunto a dois idosos se estamos em Ribolhos.

- Ainda falta, tem que atravessar a floresta e descer.

Sigo o trilho, cada vez mais sombrio e escuro pelo meio da floresta. Surge uma subida e começo a ficar realmente cansado.

Ligo para os meus companheiros e com voz ofegante aconselho-os a não caminhar mais, a ficarem pela primeira aldeia que encontrarem, que depois chamaria alguém para os ir buscar.



Começo a imaginá-los perdidos no meio da serra e que a mim ainda me dá qualquer coisa. Caminho o mais que posso. A floresta sombria nunca mais acaba e está quase de noite.

Chego ao albergue. Espero impacientemente que venham abrir a porta. Conto a situação à senhora que aparece. Ligo para os meus amigos, o telefone está interrompido.

Entretanto, o Vasco consegue entrar em contacto com o presidente da Junta de freguesia que havia saído da missa. Dá-lhe uma localização aproximada e são recolhidos alguns minutos depois e transportados ao albergue.

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Convém levar em cada etapa alguma comida energética, visto que distância entre as aldeias é grande e poucas têm mercearia.

Em Ribolhos não há restaurante ou café, o local mais próximo fica nas termas do carvalhal.

Para transportes a Castro Daire ou termas do Carvalhal, há um taxista na aldeia, o Sr. Pedro Almeida, cujo contacto é: 96 629 43 65.











A ribeira de Cabrum

Ribeira de Cabrum














Pelourinho de Mões

Mões
Mões


Mões


Albergue de Ribolhos
 

1 comentário:

Anónimo disse...

Noticia incompleta em Ribolhos á 2 cafés um chama-se "O Padeiro" este por pertencer ao filho dos donos da Padaria da mesma aldeia, que por sinal fica perto do albergue, o outro fica nas Bombas de Gasolina na Estrada numero 2.