Foram encomendadas à confraria 7 toneladas de
cavacas, distribuídas por sacos de 5 kg. Cerca de 1400 sacos vendidos a 40 €
cada, que as pessoas levam consigo para cumprir a tradição, atirando-as do cimo da capela. A fila na entrada da
sacristia lateral, que dá acesso à
escadaria para a cúpula, alonga-se
dezenas de metros. Pessoas de todas as idades, famílias, pais com o bebé no marsupial, amigos, crianças de
capacete, que também estiveram a apanhar cavacas, aguardam a vez de subir.
Compro na primeira barraquinha que
encontro um saco de 5 cavacas por 6€. Preço
standard. Não vale a pena procurar mais barato. Vou para a fila, sou o único
com o saco pequeno. É um momento único para os beira-marenses, devotos deste santo, castiço e popular, ternamente
apelidado de São Gonçalinho pelas gentes do bairro da Beira-mar. Muitas gente só consegue adquirir o saco pequeno, a não ser que
tenha encomendado antecipadamente os de 5 kg, esgotados há três semanas.
O confrade controla as entradas. Espero com outras pessoas a ordem para nos deixar subir. Enquanto isso, ele vai conversando bem-disposto: “Sorria, as tristezas não pagam dívidas”, diz, vendo-me encostado à parede. Fala dos “testemunhos” com um dos visitantes. Não se pode ser confrade todos os anos “tem-se de passar o testemunho”.
Subo os 41 degraus até ao exterior da cúpula. Contorno numa fila
ordeira o pátio estreito, vendo os telhados circundantes, a ria e centenas de pessoas que se aglomeram nas ruas de acesso à capela. Dezenas
delas concentram-se no átrio, olham para cima, seguram guarda-chuvas
virados ao contrário, camaroeiros e sacos, prontas
para apanhar as cavacas. Atiro as minhas lá para baixo com pouca força, filmando
o momento. Ouvem-se os gritos
de quem se assusta com a dureza das cavacas e por um
triz não leva com uma na cabeça, e de alegria, por conseguirem apanhá-las. Como num jogo de crianças em que ganha a que
mais encher o saco de rebuçados. Outra tradição, é tocar o sino da capela. O som ouve-se à distância, sabendo-se ao longe que estão a ser lançadas cavacas. O lançamento
decorre de manhã à noite, só interrompido durante a realização das
cerimónias religiosas.
O espírito do São Gonçalinho é ingenuidade e alegria,
traduzida no diminutivo do nome, nos santinhos de barro de várias cores colocados
nas janelas, na airosidade de milhares de pessoas que se juntam para o
celebrar.
O altar do São Gonçalinho |
Moliceiro no canal de São Roque |
Armazém com sacos de cavacas, de 5kg |
Monumento comemorativo da desaparecida muralha de Aveiro. Inaugurado em 8 de dezembro de 2024, da autoria de Siza Vieira |
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