segunda-feira, 30 de abril de 2012

Rota do Ouro Negro (PR 8 de Arouca)














A informação relativa a este percurso é enganadora. No PDF, disponível no sítio da câmara de Arouca, e nos painéis explicativos do percurso, surge a indicação de 6 Km e duração de 2h 30 m. Como o trajeto é linear, eu estava convencido que essa informação referia-se ao trajecto completo, ida e volta. É apenas referente a um sentido. Portanto, devem ter em consideração que vão percorrer 12 km, e não 6, e demorar o dobro do tempo estimado.

Comecei na capela de Santa Catarina, na aldeia de Fuste. Para estacionar o carro, junto da capela, onde existe um painel informativo e o início do percurso, há dois caminhos possíveis, sendo a melhor opção virar à direita, logo após a entrada na aldeia, evitando desta forma passar com o carro nas ruelas muito estreitas do centro.

Era meio-dia e a primeira opção foi arranjar um sítio agradável para me abancar e comer, logo após a saída de Fuste. Arranjei uma rocha junto de um prado. Ambiente bucólico, quintais, céu sombrio a ameaçar chuva. Tudo muito verde e encharcado.

Afastando-me da aldeia a paisagem foi-se abrindo, as encostas cobertas de queiró e tojo davam uns tons rosa e amarelo à serra. O caminho é em certos troços empedrado e com muitas lajes de xisto soltas. Do lado direito da encosta existem vários buracos, escavados há muitas décadas atrás, para extrair volfrâmio, o Ouro Negro - são as minas da Pena Amarela. Em baixo, pela esquerda, corre um riacho de águas límpidas e rápidas com uma grande cascata e um precipício enorme a exigir muitos cuidados, que com chuva e lajes escorregadias, torna-se mais perigoso ainda.


Mais á frente existem algumas cordas presas na rocha para apoiar os caminheiros neste troço mais estreito.


A paisagem é muito bonita mas a chuva começa a cair intensamente. Apesar de levar o impermeável fico completamente encharcado e com  os pés molhados. Começo a espirrar e não há onde me abrigar. O terreno é aberto, a vegetação rasteira e não me atrevo a entrar numa das mina abandonadas. Há muitos meses que não ficava tão ensopado.

A máquina fotogáfica também fica meio avariada com a humidade, a objetiva só abre parcialmente e tiro  fotografias com a imagem truncada que parecem montagens mas não são.

Antes de chegar a Rio de Frades ouço um trovão. O céu continua muito escuro, a chover intensamente e a ameaçar trovoada.

Em Rio de Frades decido não regressar a pé até Fuste. As condições atmosféricas são muito desfavoráveis, não parou de chover, receio que comece a trovejar bastante, estou todo encharcado, com frio e as lajes  molhadas são um risco  não me apetece   correr ao passar nos troços mais estreitos e íngremes, junto dos precipícios.  

Na mercearia, a dona atende-nos imediatamente.

- Entrem, entrem estejam à vontade, a gente daqui não é despovoada. Os senhores o que vão tomar?

Pedimos chá, queijo, presunto, vinho e pão enquanto conversamos com a D. Isaura e descansamos os pés.

- Estejam à vontade, sentem-se que já vos sirvo. A gente daqui não é despovoada.

A Dona Isaura é a dona da Mercearia. Diz-nos que tem visto muitos caminheiros por cá. É de Rio de Frades e lembra-se bem do tempo em que as minas eram exploradas pelos alemães.

- Os mineiros eram portugueses mas os patrões Alemães. O volfrâmio era para a guerra. Os homens apanhavam-no dos filões e as crianças como eu lavavam no rio os restos que sobravam das minas, o que ficava no fundo era o volfrâmio. Também se vendia algum volfrâmio por conta própria. Os mineiros eram mal pagos mas tinham luz eléctrica nas casas, enquanto nós ainda vivíamos à luz das velas e com gasómetros em casa. Algumas das antigas casas dos mineiros ainda são habitadas pelos descendentes. Mas comam, comam, a gente daqui não é despovoada, arranja-se o que for preciso para os senhores.

A Dona Isaura dá-nos o número de um taxista de Arouca que já tem ido à aldeia buscar outras pessoas.

- Nem pensem ir a pé até à Portela, são 14 Km. Está um tempo terrível, fiquem á vontade. A trovoada é muito perigosa, não vale a pena arriscar. Que tempo terrível. Querem mais um pouquinho de vinho? È vinho verde daqui da terra. O senhor quer telefonar ao taxista? Olhe tem que ir até além, vê aquele poste na estrada? A partir dali já tem rede.

Visto novamente o impermeável, subo a estrada até ao poste de electricidade. Ainda não há rede, continuo a subir a estrada debaixo de chuva até começar a aparecer o sinal de rede no telemóvel. Combino com o taxista que nos vem buscar mais ao menos dali a meia hora.

Entram na mercearia mais duas vizinhas da D. Isaura, atraídas pelo som da conversa com pessoas de fora. Têm ambas mais de setenta anos.

- Eu também trabalhei nas minas. Morreu tanta gente…era assim naquele tempo. O pó da rocha dava cabo dos pulmões das pessoas.

O taxista chega, leva-nos de regresso ao carro que deixei estacionado em Fuste.

- Vai continuar a chover enquanto não mudar a lua: “Lua nova trovejada, trinta dias é molhada” – diz ele, usando a sabedoria popular, que a malta como eu não conhece.

Um dia regressarei para fazer o percurso inverso e tirar muitas fotografias que com este tempo não foram possíveis. A humidade pifou a máquina fotográfica.
Fuste

Fuste





 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Minas da Pena Amaela debaixo de chuva
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 



Chegada a Rio de Frades com a máquina fotográfica em mau estado. Ainda deu para tirar estas fotos com estes efeitos de sombra








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