Um casal de peregrinos toma o pequeno almoço na cozinha do albergue. Sento-me na mesa ao pé deles. A língua que falam parece Holandês. Pergunto:
- São Holandeses?
- Não, somos Belgas.
- Da Flandres, então.
- Sim, a língua é muito parecida.
Chegaram no avião ao Porto e apanharam o metro para a Maia.
- já era um pouco tarde para começar a caminhar na Sé Catedral – desculpam-se.
Torcem o nariz ao trajecto que fizeram depois da Maia. Estão encantados com os albergues de Rates e de Ponte de lima, e com a Vila.
- È muito bonita, tão antiga e enquadrada na paisagem.
Da cozinha observa-se a torre da igreja e as montanhas que rodeiam a Vila.
- É preciso ter sítios como este no caminho Português para compensar os outros menos interessantes – respondo.
De manhã cedo deambulo por Ponte de Lima e tiro algumas fotos.
Vou próximo do rio Coura e observo algumas quedas de água e moinhos entre a folhagem. Encontro as primeiras fontes de água potável. Até aqui só água não verificada laboratorialmente nas bicas do caminho.
A etapa tem uma subida muito acentuada depois de Labruja, sendo o troço mais difícil entre o Porto e Valença. A subida faz-se dentro de um pinhal, há muita sombra e qualquer sítio serve para descansar. No cimo, um painel conta a história da Via Romana XIX e do antigo caminho, aproveitado pelos peregrinos que se serviam desta via para chegar a Compostela.
Chego cedo a Rubiães, que fica mais ou menos a meio caminho entre Ponte de Lima e Valença. É um sítio ideal para os peregrinos, que se sintam muito cansados e sem forças para continuar, ficarem. Àquela hora estava fechado. Entrei no jardim e espreitei para dentro, pareceu-me ter excelentes condições.
O único albergue do caminho Português foi durante muitos anos o de Valença. Felizmente as localidades no caminho começaram a perceber as vantagens que a passagem de peregrinos traz e aproveitaram a existência de antigas escolas e edifícios devolutos para os transformar em albergues: Rates, Tamel, Ponte de Lima e Rubiães são albergues novos e em condições.
Encontro algumas peregrinas Portugueses que ficaram alojadas no albergue de Tamel.
-Excelente. Ainda por cima era Sexta-feira e a senhora responsável pelo albergue cozinhou para todos.
Dentro de Valença um senhor indica-nos onde fica o albergue e pergunta de onde somos.
- Vila Nova de Gaia
- Amanhã vou para Vila Nova de Gaia despejar entulho.
- Eu também vou – respondo
- Se quiser dou-lhe boleia, não me custa nada. Só tem que estar aqui antes das 8.
- Obrigado. Pode ser que apareça.
Termino o dia a jantar com Niels. Bebemos um bom vinho branco e brindamos à nossa. Niels promete que me enviará um postal do Afeganistão.
Se não fosse soldado seria chef de cozinha, tal a sofisticação e os conhecimentos com que fala de especiarias, fusão de temperos e de diversos pratos. Comprou no bazar de Kunduz temperos magníficos que trouxe para o Norte da Alemanha e que foram um grande sucesso na cozinha dos amigos. Sente curiosidade pela comida portuguesa e vou-lhe explicando os temperos mais usados na nossa gastronomia, os pratos mais conhecidos e saborosos e a doçaria tradicional.
Nunca conheci um alemão tão bem disposto e com tanto sentido de humor.
Na segunda de manhã fico à espera do Sr. João que me vai dar boleia até Gaia.
Fonte das três bicas |
Rubiães, ponte Romana |
Valença, Albergue de Peregrinos |
Valença, muralhas da cidade |
Sem comentários:
Enviar um comentário