A aldeia de Covas do Rio não tinha cemitério. Os mortos eram enterrados na vizinha Aldeia da Pena, algumas centenas de metros mais acima. Nesses tempos não havia estrada, o caminho fazia-se subindo pelo vale encaixado e declivoso, impossível de ser ultrapassado por carroças com animais. Só os homens a pé, com o seu esforço e vontade conseguiam transportar os objetos maiores. Era desta forma que os caixões iam para o cemitério na Aldeia da Pena, levados nas costas. Num desses momentos, com os homens exaustos, o caixão escorregou dos ombros e deslizou pela encosta abaixo, matando quem vinha atrás. Assim o caminho ficou a ser conhecido pelo nome do “Caminho do morto que matou o vivo”.
Creio já ter ouvido versões idênticas noutros lugares. Não faço ideia se a história realmente aconteceu e se foi aqui ou noutro sítio, no entanto o paradoxo do “morto que matou o vivo” é curioso e intrigante para quem não conhece a história. Ouvi-a ser contada de diferentes formas e com muito humor. Como é de prever o caminho é difícil, de outra forma não poderia ter ocorrido o acidente com o caixão.
O riacho corre rumoroso e límpido pelo vale encaixado, formando minúsculas cascatas e lagoas. O caminho é por vezes um estreito carreiro de terra sulcado na serra, outras vezes é composto por lajes soltas de xisto, muito escorregadias, debruadas de um lado por muros de xisto e do outro pelo precipício do riacho. As giestas, gilbardeiras, urzes e tojo crescem nas encostas da serra, dando-lhe um tom amarelado e rosa. Nos locais mais abrigados há carvalhos e loureiros.
Entra-se na aldeia da pena por um vale onde pastam algumas vacas e cavalos. As habitações são de xisto, mantendo a traça arquitetónica tradicional. O único acesso por estrada é uma ingreme descida que vem do São Macário. São poucos os habitantes que permanecem aqui, contudo existe uma adega típica que serve petiscos por encomenda e vende queijo e mel da serra. O Caminho do Morto termina na aldeia da pena. O regresso faz-se por Covas do Monte, através da encosta da serra da arada, passando por um pinhal e depois por uma paisagem mais aberta, de onde se avista toda a serra de Montemuro, mais a norte, e a serra da Freita, a poente. Covas do Monte fica encaixada num vale profundo, cercada pelas encostas da serra da Arada e pelos terrenos agrícolas que se distendem verdejantes ao longo do vale. Também aqui há um pequeno restaurante que faz refeições por encomenda, as tradicionais casas de xisto, espigueiros e, surpresa, um espaço internet.
Na aldeia de Covas do Rio tem-se tempo para uma visita mais demorada, sentindo o andamento e o viver das pessoas, quase todas idosas. Há apenas uma criança que frequenta a escola noutra freguesia. Os idosos, como acontece cada vez mais em Portugal, são a esmagadora maioria. Uma senhora corta a lenha e rapidamente alguns pedestrianistas se prontificam para a ajudar, outros habitantes oferecem vinho caseiro ou contam histórias da sua vida, sentados nos degraus da entrada. Há uma rua estreita que atravessa a aldeia, circulando apenas um carro de cada vez. Imagino que a vida seja muito idêntica ao que era há cinquenta anos atrás, havendo contudo um acentuar dos velhos problemas: envelhecimento da população, isolamento, falta de apoio aos idosos em comodidades básicas como a saúde: um táxi custa 40€ para o médico mais próximo, em Arouca ou São Pedro do Sul, e não há nenhum subsídio que pague estes deslocamentos. As pessoas estão cada vez mais envelhecidas e entregues a si próprias.
Nesta região fica a famosa capela do São Macário, uma ermida no alto da serra da Arada, construída nas rochas de xisto; e o Portal do Inferno, um pequeno troço na estrada sinuosa que une os concelhos de São Pedro do Sul a Arouca, cujas bermas são precipícios de um lado e do outro. A conduzir com muito cuidado!
Participei num numeroso grupo de caminhantes inseridos noutros clubes: os Calcantes, Serrabiscos, Clube de Campismo de São João da Madeira. O mais surpreendente foi verificar que apesar de numeroso e da exigência física do caminho, o grupo funcionou muito bem. Manteve uma passada regular, não houve percalços, ninguém se sentiu mal ou ficou para trás. Todos caminharam com desenvoltura e o ambiente geral foi descontraído e divertido.
Creio já ter ouvido versões idênticas noutros lugares. Não faço ideia se a história realmente aconteceu e se foi aqui ou noutro sítio, no entanto o paradoxo do “morto que matou o vivo” é curioso e intrigante para quem não conhece a história. Ouvi-a ser contada de diferentes formas e com muito humor. Como é de prever o caminho é difícil, de outra forma não poderia ter ocorrido o acidente com o caixão.
O riacho corre rumoroso e límpido pelo vale encaixado, formando minúsculas cascatas e lagoas. O caminho é por vezes um estreito carreiro de terra sulcado na serra, outras vezes é composto por lajes soltas de xisto, muito escorregadias, debruadas de um lado por muros de xisto e do outro pelo precipício do riacho. As giestas, gilbardeiras, urzes e tojo crescem nas encostas da serra, dando-lhe um tom amarelado e rosa. Nos locais mais abrigados há carvalhos e loureiros.
Entra-se na aldeia da pena por um vale onde pastam algumas vacas e cavalos. As habitações são de xisto, mantendo a traça arquitetónica tradicional. O único acesso por estrada é uma ingreme descida que vem do São Macário. São poucos os habitantes que permanecem aqui, contudo existe uma adega típica que serve petiscos por encomenda e vende queijo e mel da serra. O Caminho do Morto termina na aldeia da pena. O regresso faz-se por Covas do Monte, através da encosta da serra da arada, passando por um pinhal e depois por uma paisagem mais aberta, de onde se avista toda a serra de Montemuro, mais a norte, e a serra da Freita, a poente. Covas do Monte fica encaixada num vale profundo, cercada pelas encostas da serra da Arada e pelos terrenos agrícolas que se distendem verdejantes ao longo do vale. Também aqui há um pequeno restaurante que faz refeições por encomenda, as tradicionais casas de xisto, espigueiros e, surpresa, um espaço internet.
Na aldeia de Covas do Rio tem-se tempo para uma visita mais demorada, sentindo o andamento e o viver das pessoas, quase todas idosas. Há apenas uma criança que frequenta a escola noutra freguesia. Os idosos, como acontece cada vez mais em Portugal, são a esmagadora maioria. Uma senhora corta a lenha e rapidamente alguns pedestrianistas se prontificam para a ajudar, outros habitantes oferecem vinho caseiro ou contam histórias da sua vida, sentados nos degraus da entrada. Há uma rua estreita que atravessa a aldeia, circulando apenas um carro de cada vez. Imagino que a vida seja muito idêntica ao que era há cinquenta anos atrás, havendo contudo um acentuar dos velhos problemas: envelhecimento da população, isolamento, falta de apoio aos idosos em comodidades básicas como a saúde: um táxi custa 40€ para o médico mais próximo, em Arouca ou São Pedro do Sul, e não há nenhum subsídio que pague estes deslocamentos. As pessoas estão cada vez mais envelhecidas e entregues a si próprias.
Nesta região fica a famosa capela do São Macário, uma ermida no alto da serra da Arada, construída nas rochas de xisto; e o Portal do Inferno, um pequeno troço na estrada sinuosa que une os concelhos de São Pedro do Sul a Arouca, cujas bermas são precipícios de um lado e do outro. A conduzir com muito cuidado!
Participei num numeroso grupo de caminhantes inseridos noutros clubes: os Calcantes, Serrabiscos, Clube de Campismo de São João da Madeira. O mais surpreendente foi verificar que apesar de numeroso e da exigência física do caminho, o grupo funcionou muito bem. Manteve uma passada regular, não houve percalços, ninguém se sentiu mal ou ficou para trás. Todos caminharam com desenvoltura e o ambiente geral foi descontraído e divertido.
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