Poucos quilómetros após a saída de Vilarinho atravessa-se uma bonita ponte gótica sobre o rio Ave, com um moinho em cada uma das margens. Nesta etapa surgem os primeiros troços de terra batida, contudo continua a predominar a passagem por ruas de paralelos e novamente a nacional 306, entre muros de grandes propriedades agrícolas e quintas.
A Vila de São Pedro de Rates fica a 13 Km de Vilarinho e foi uma surpresa muito agradável passar nesta localidade bonita e acolhedora, com uma importante igreja Românica e um excelente albergue.
O Albergue é uma antiga casa rural recuperada. Tem três camaratas, chuveiros, lavandaria e cozinha. No exterior há espigueiro e eira onde no Verão se fazem reconstituições de desfolhadas. Parte da casa foi transformada em museu rural, tendo em exposição alfaias agrícolas e a história do ciclo do linho. Existe ainda uma curiosa nora que também é catavento.
A chave do albergue deve ser pedida na mercearia que fica ao cimo da rua, onde também se carimbam e vendem credenciais. É comum ficar lotado nos meses de Julho e Agosto. Está aberto todo o ano.
Daniel é um peregrino Italiano que veio na Easyjet, no voo Milão – Porto. Apanhou o metro até Vilar do Pinheiro e começou aí a peregrinação. Vem carregado com tenda e botas de montanha penduradas na mochila. Está arrependido de trazer tanta coisa. Explico-lhe que não devia ter trazido tanto. Mostro-lhe a minha pequena mochila e digo que o melhor é levar o mínimo possível. Quanto menos peso melhor. Roupa simples, leve, versátil e apenas três pares de calçado. Sapatilhas para caminhar, chinelos finos para o duche e para ocuparem pouco espaço, e outro par de calçado muito ligeiro, apenas para substituir as sapatilhas após as caminhadas, enquanto estas são arejadas. Molas, fio, sabão para lavar a roupa, impermeável. Em Santiago regressará ao Porto para visitar a cidade e embarcar para Milão. Tem uma exploração de vacas. Vende o leite a 0,40 € às cooperativas e depois o mesmo leite é vendido nos supermercados italianos a 2€. A margem de lucro é mínima comparada com o que os restantes intermediários e o vendedor final ganham.
Não aguenta caminhar mais e fica em São Pedro de Rates. É uma da tarde, sinto-me bem e continuo sozinho até Barcelos.
A aproximação a Barcelos é desinteressante, caminha-se pela EN 306 e passam-se por lugarejos que, à excepção de um ou outro ponto com alguma história, têm pouco para ver.
Barcelos não tem albergue. O rancho Folclórico de Barcelinhos recebe os peregrinos na sua sede que fica antes de se atravessar a ponte medieval, à esquerda, depois dos bombeiros voluntários. As instalações são simples, mas com a dignidade e a higiene necessárias. Consistem numa camarata com 10 beliches, casa de banho e chuveiros.
- Você é Português? - pergunta a funcionária que me recebe - é que geralmente os Portugueses andam sempre em grupo e você como está sozinho fiquei com dúvidas. São mais os estrangeiros que andam sozinhos a fazer o caminho de Santiago.
Na camarata encontro os brasileiros de ontem, estão dentro do mesmo saco cama e parecem muitos apaixonados.
Lavo alguma roupa, ao meu lado um tipo faz o mesmo.
- De onde és? – pergunto
- Sérvia.
Talvez por ser a primeira pessoa que conheço da Sérvia foi inevitável despejar-lhe uma série de perguntas sobre o país e principalmente sobre a política, a guerra da Jugoslávia, os bombardeamentos da Nato, a situação do Kosovo.
Pareceu-me um indivíduo muito sábio. Não tem carro, veio a pé desde a Sérvia, dorme em albergues e muitas vezes na rua, não come em restaurantes para poupar dinheiro. Compra enlatados e fruta.
Chegam outros peregrinos para lavar a roupa e terminamos a conversa.
Aponto uma frase “ O Caminho é feito de encontros ocasionais”.
Deambulo por Barcelos à procura de restaurante. Sento-me na esplanada do largo do Apoio, do chafariz renascentista brota água. Tomo um chá antes do jantar.
Ponte Gótica de Zameiro |
Moinho no rio Ave |
Igreja Românica de São Pedro de Rates |
Albergue de São Pedro de Rates |
Interior do recinto do albergue |
Barcelos, ponte medieval e museu arqueológico |
Barcelos |
Barcelos, chafariz renascentista. Largo do Apoio |
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