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Auto-retrato, ca 1940, com a máquina Leica |
A biblioteca pública de Perosinho tem um ciclo de palestras mensais intituladas “A Biblioteca em Viagem com…”. No âmbito destes ciclos já por aqui passaram convidados como Gonçalo Cadilhe e João Garcia. Num meio pequeno e com poucos associados a divulgação destes eventos é muitas vezes informal e quase que feita apenas entre os sócios e amigos. Infelizmente não tive conhecimento atempadamente das palestras anteriores. Gostaria bastante de ter ouvido pessoalmente o Gonçalo Cadilhe e, quiçá, fazer-lhe umas perguntinhas sobre Viagens – haveria imenso para saber.
Desta vez tive conhecimento desta palestra através de um cartaz no meu local de trabalho: Orlando Ribeiro - “Itinerâncias de um Geógrafo” com a visualização do documentário produzido para a RTP2 e palestra sobre a vida e obra de “um dos maiores vultos da cultura portuguesa científica do século XX”. O orador convidado foi o professor João Carlos Garcia, discípulo de Orlando Ribeiro e professor agregado do departamento de geografia da faculdade de letras da Universidade do Porto. Orlando Ribeiro nasceu em 1911, vindo esta palestra na continuação da comemoração dos 100 anos do seu nascimento.
Muito foi dito sobre a Vida e Obra de Orlando Ribeiro e a História do Ensino da Geografia em Portugal. Com humor e um discurso cativante, o professor João C. Garcia foi referindo curiosidades e acontecimentos que envolveram Orlando Ribeiro e outros eventos relacionados com a Geografia em si. Alguns desses eventos foram testemunhados por si próprio enquanto aluno do mestre.
Retive os seguintes pontos:
Orlando Ribeiro foi discípulo predilecto de outro grande geógrafo e etnógrafo português: José Leite de Vasconcelos.
Na década de 30 comprou uma máquina fotográfica, Leica, em Paris. Um objecto que lhe custou imenso dinheiro e que o acompanharia durante mais de trinta anos nas suas viagens de trabalho, permitindo-lhe tirar milhares de fotografias que hoje fazem parte do seu espólio e organizadas num catálogo intitulado Finisterra. Orlando Ribeiro não foi apenas um grande geógrafo, as fotografias que tirou revelam também um grande fotógrafo. São algumas dessas fotos, disponíveis no site http://www.orlando-ribeiro.info/, que apresento nesta mensagem.
Nas saídas de campo usava um fato de cotim bastante roçado que muitas vezes o faziam confundir com outras pessoas que não um professor universitário.
Foi responsável pelo relançamento do curso de Geografia na Faculdade de letras da universidade do Porto. Esta faculdade foi encerrada por motivos políticos em 1931. Os seus alunos andaram envolvidos em revoluções contra o Estado-Novo. Só na década de 60 reabriria.
Os primeiros responsáveis pela regência da disciplina de geografia em Portugal eram médicos. Qual a relação entre a Geografia e a Medicina? Com algum humor o professor João Carlos Garcia citou alguém que comparava a Geografia à Dermatologia. É apenas uma diferença de escala. A Dermatologia estuda a pele e a geografia a Crusta Terrestre. Aliás, o próprio Orlando Ribeiro e um seu colega dermatologista entretinham-se trocando e corrigindo textos um do outro.
Nos períodos mais importantes da colonização Portuguesa em África era importante definir as regiões mais habitáveis, a medicina tinha uma ligação muito forte com o conhecimento da salubridade desses locais logo com as suas condicionantes geográficas.
A Malária em Portugal só foi erradicada na década de 30 do século passado. A “Sezão” como era apelidada, responsável pela fraca densidade populacional dos vales do Sado e Guadiana, onde era mais comum. Os exércitos conheciam bem este fenómeno, não havia guerra no período da Sezão. Ela matava mais do que a própria guerra.
Orlando Ribeiro teve a sorte de terem ocorrido durante a sua vida duas erupções vulcânicas em território Português, o que lhe permitiu estudar e observar ao vivo o fenómeno. A primeira erupção ocorreu em 1951, na ilha do Fogo em Cabo Verde, a segunda, em 1958, na ilha do Faial, nos Açores.
Na ilha do fogo ficou conhecido pelo “homem que ia tapar o vulcão”. Um dos cumes formados nessa erupção ficou com o nome de Monte Orlando. O estado Novo tudo fez para abafar a situação de fome endémica que se vivia na ilha. Orlando Ribeiro fotografa os Famintos junto à porta da Câmara Municipal, o estado censura a fotografia e partes do livro que escreveu.
Está para sair um livro seu sobre o desastre da colonização de Angola.
No documentário, o sociólogo António Barreto refere que o livro “Portugal, O Mediterrâneo e o Atlântico” é uma preciosidade que deveria ser lido por todos os Portugueses. Uma das mais importantes obras da literatura Portuguesa, científica ou não.
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Ilha do Fogo, 1951, mulher com os seus meninos |
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Ilha do Fogo, 1952, Branco e Mestiço jogando o Ourim |
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Ilha do Fogo, 1951. |
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Ilha do Fogo, 9 de Julho de 1951, Monte orlando a Fumegar |
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Ilha do Pico, 1953, dois velhotes descansando |
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Ilha Terceira, 1953, uma tourada à corda |
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Ilha do Faial, 7 de Janeiro de 1958, erupção dos Capelinhos |
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Ilha de São Jorge, 1953, moinho de vento triângular |
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Ilha de Porto Santo, 1947, moinho de vento |
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