Sou recebido no Centro para a Valorização do Burro de Miranda, em Atenor, pela Cláudia, com uns fabulosos olhos azuis, que me indica o caminho até ao curral dos burros, onde nos espera o Emanuel, o nosso guia na visita e no passeio de burro pelas redondezas.
Mostra-nos a Quimera, uma burrinha que nasceu há pouco mais de uma semana, sempre em volta da mãe a tentar mamar. Outras burras comem fardos de palha de aveia. Passam 60% do tempo a comer.
Num curral isolado está o único burro cobridor do centro, um "burro inteiro", os outros, castrados, estão separados em dois currais. Vamos buscar o Atenor, o primeiro a nascer na AEPGA, Associação para o Estudo e Protecção do Gado Asinino, em 2005. Ficou com o nome da aldeia onde foi criada a Associação.
Mostra-se muito teimoso. O Emanuel coloca-lhe a Albarda e a sela no dorso, puxa o focinho com a corda e nada. Não há maneira de o demover. Arranca um ramo de carrasco e vai buscar uma ração especial para burros, dá-os a cheirar. O burro mastiga as folhas, move-se uns metros e volta a parar. Quer mais comida. No entanto chega a Cláudia que o enxota por trás, mas o burro continua teimoso.
Após alguma insistência, entra finalmente em modo de passeio e realizamos o circuito de uma hora pelas redondezas da aldeia. O Emanuel dá-nos muitas informações sobre os hábitos e a fisiologia dos animais, dá para perceber que gosta muito deles. Quer ir de burro até aos Picos de Europa. Trata-os com muito carinho. Cada um tem o seu feitio e o Atenor é um burro muito especial, dócil e comilão.
Regressamos ao centro e os restantes burros aproximam-se da cerca a observar-nos. O Atenor entra no seu curral, já sem a Albarda e a sela, e é imediatamente rodeado pelos restantes companheiros, como que a dar-lhe as boas vindas e a quererem receber notícias do passeio.
Ficamos enternecidos a observar a cena na outra extremidade. Os burros dispersam-se e o Atenor vem até nós, fica a olhar-nos alguns segundos, talvez a dizer Adeus.
Por recomendação do Emanuel almoçamos em Sendim, na taberna da Moagem. O dono diz-nos que nos primeiros Festivais Intercélticos serviam quatro mil pessoas. Hoje há menos gente devido à quantidade de festivais de Verão, que no entanto surgiram.
Passamos pela Bemposta e dirigimo-nos para Lamoso, onde fizemos uma parte do Percurso Pedestres PR MD6, até à Cascata da Faia da Água Alta. Um estreito caminho de terra batida, com 1.4 km de comprimento, que nos conduziu entre carrascos e oliveiras ao longo de um pequeno riacho, afluente do rio Douro, até à queda de água. O percurso contorna a cascata por duas pontes de madeira e trilhos bem delimitados por vedações de madeira. Local muito aprazível e quase sem ninguém. O regresso, sempre a subir, foi bastante mais cansativo.
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Entrada do Centro de Valorização do Burro de Miranda |
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A Quimera |
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Igreja de Sendim |
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Cascata da Faia da Água Alta |
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Carrascos |
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Pombal característico da região |
A dona Sara é da Paradela, o ponto mais oriental de Portugal continental. Quando visita a aldeia faz questão de falar exclusivamente em Mirandês, junto da lareira, contando histórias…
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Igreja da Misericórdia, Miranda do Douro |
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O rio Douro em Freixiosa |